quarta-feira, 21 de outubro de 2020

PLENA FRUIÇÃO EM 83 MINUTOS

Dias atrás o meu amigo Nuno Ferrand, com quem tanto tenho aprendido em matérias da sua especialidade (Biodiversidade) e em outras (incluindo coluna vertebral), tinha-me chamado a atenção para o novo, poderoso e belíssimo documentário de David Attenborough, “Uma Vida no Nosso Planeta” (em exibição na “Netflix”, que o lançou assim: “o grande comunicador conta-nos a história da sua vida e da evolução do planeta, chorando a perda de habitats selvagens e propondo uma visão para o futuro”).

 

Pois esta manhã, ainda eu não tinha tido ocasião de fazer a minha habitual revisão das notícias, já tinha no telemóvel (adivinhem enviado por quem...) o parágrafo assinado por Cristina Peres no “Expresso Curto” sobre o referido documentário. Assim: “Uma hora e 23 minutos de legado da vida inteira de Sir David Attenborough, filmados quando tinha 93 anos (agora tem 95 [– peço desculpa por corrigir mas parece que são só 94, diferença que é relevante na idade em causa –]), que funcionam como o testemunho da “vida extraordinária” que viveu. Depois disto, não deve mais nada ao mundo. “A Life on Our Planet” está disponível em streaming na Netflix e eu diria que todas as gerações de humanos deveriam ser obrigados a assistir se a obrigatoriedade não estivesse hoje em dia tão em moda. O melhor é ver voluntariamente as imagens maravilhosas e ouvir as reflexões que este britânico em extinção formulou para conseguir legar um final esperançoso. A angústia maior é pensar que se ele não conseguir provocar ação política com a incansável atividade em que se tem mantido nas últimas décadas em fóruns internacionais de todos os quadrantes geográficos, e com imagens maravilhosas como as reunidas neste documentário, ninguém vai conseguir.”

 

Só posso assinar por baixo e insistir na sugestão da jornalista junto de quantos nos leem. Sabedoria é a palavra final de David Attenborough no seu filme. Sabedoria é também o que ele nos revela de si próprio, seja em termos do modo como escolheu e conseguiu viver, seja em termos do modo como tão eficazmente denuncia, alerta e propõe  “temos de erradicar a pobreza, eliminar os combustíveis fósseis rapidamente, focar nas energias renováveis e na agricultura sustentável e restaurar a biodiversidade em todo o Globo”, “porque ecossistemas diversos funcionam simplesmente melhor” e para não termos de ser levados a “perceber, embora tarde demais, que a natureza encontrará um caminho, sem nós”.

 

São inúmeras as imagens que de tão magníficas fazem suster a respiração, como são também elucidativos os números e evidências apresentados. Como quando nos refere que, ao tempo da sua juventude (1937), havia 2,7 mil milhões de pessoas na Terra e as áreas selvagens representavam 66% da superfície do planeta, enquanto hoje somos quase o triplo (7,8 mil milhões) e as áreas selvagens encolheram para 38%. Ou como quando nos fala de uma irreversível sexta extinção em massa no final do século se as atuais tendências não forem invertidas (a quinta foi a que ficou associada ao desaparecimento dos dinossauros), gerando um planeta altamente danificado e largamente inabitável (quatro graus centígrados mais quente) e situações insustentáveis de ausência de abrigo, fome e luta por recursos.

 

As últimas cenas do documentário, filmadas em Chernobyl quase três décadas e meia depois do desastre nuclear que assolou a cidade ucraniana e obrigou ao abandono de todos os seus residentes, tornam-se imaginariamente épicas. Veem-se prédios urbanos invadidos por vegetação tão exuberante que praticamente esconde as ruínas; veem-se animais, alguns raros, a circular nas ruas; ressalta uma enorme desolação mas percebe-se bem quão repleta de vidas, apenas não de vidas humanas – “a natureza encontrou um caminho”.

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