segunda-feira, 26 de outubro de 2020

UM TABU A DESVENDAR


Está aparentemente encerrada a interminável trama em torno da (não) aprovação do Orçamento de Estado (OE) para 2021. Com o PS e o Governo a declararem, alto e bom som, que tudo está bem quando acaba bem, além de continuarem a insistir na sua completa incompreensão quanto à posição de rejeição assumida pelo Bloco de Esquerda (BE). Numa lógica assente no mais estrito curto prazo, assim será indiscutivelmente, sobretudo porque seria péssimo que o País partisse para os gigantescos desafios que o esperam no próximo futuro sem um OE estabilizado, melhor ou pior ele possa ser deste ou daquele ponto de vista em concreto. Dito isto, e se nos focarmos na dinâmica política nacional (vejam-se os resultados dos Açores ou as sondagens presidenciais, p.e.) e na evolução pandémica e seus potenciais efeitos socialmente devastadores, as coisas poderão ter leituras alternativas ou, pelo menos, não tão pretas e brancas.


(cartoons de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

 

Porque a interrogação que tem de se nos colocar, neste quadro, é a do porquê profundo da posição adotada pelo BE – poderá bem ter sido um ato de cegueira suicida provocado por alguns assomos serôdio do radicalismo de tempos passados, mas recuso-me a crer que tal acontecesse unanimemente e em moldes capazes de afetar, em simultâneo, Catarina e Marisa, Mariana e Pedro Soares, Fazenda e Jorge Costa, Gusmão e Fortunato, Fabian e Dina, além do omnipresente patriarca Francisco Louçã. Ora, e nesta perspetiva, a decisão da Mesa Nacional foi certamente ponderada na base de um racional estratégico arriscado mas que há de existir; o tempo, e não será preciso muito, dirá de sua justiça ao condenar o BE a um regresso à irrelevância ou ao permitir-lhe um novo salto em frente.

Sem comentários:

Enviar um comentário