quarta-feira, 10 de março de 2021

CINEMA NA CIDADE

 


(“Vai no Batalha” é uma expressão provavelmente intraduzível noutras línguas, própria de uma vivência portuense que ontem, pela coragem e determinação de dez bravos, alguns deles substituídos porque exaustos, se mostrou desportivamente à Europa, dizendo estamos cá. O cinema já viveu melhores dias nas atmosferas urbanas do Porto, mas o que se anuncia para o Batalha, ver Público de ontem (link aqui), promete alguma esperança.

A expressão “Vai (Bai) no Batalha” não é apenas a ilustração de como a língua se constrói nos espaços de inserção e de proximidade dos cidadãos. É verdade que é a forma portuense de duvidar e denunciar a mentira que pode estar associada a uma declaração, afirmação ou coisa que o valha. É cinema, não é real, é imaginação ou deturpação. Mas a expressão sinaliza também a presença do cinema físico, a infraestrutura do Batalha e a sua importância no imaginário portuense e a sem fim sequência de projetos, ideias e outros projetos de reabilitação do equipamento, que deram origem a muitos “bais no Batalha” dos portuenses que esperam pela sua concretização definitiva e reintegração na vida da Cidade.

E o cinema é a arte que para mim melhor representa a vivência cultural das Cidades, sobretudo se não projetarmos os espaços apenas como equipamentos em que passam filmes, mas como centros culturais que trabalham a linguagem fílmica como pretexto e objeto de um debate mais alargado. Os cine-clubes de outros tempos projetavam essa ideia, eram uma ponte para uma formação cultural de largo espectro, sobretudo no período antes de abril, eram lugares de resistência e cumplicidade.

O conceito de Centro de Cinema (Batalha Centro de Cinema) que orienta o projeto de revitalização do Batalha e sobretudo a expectativa criada com a futura Direção de Guilherme Blanc e uma equipa que muito promete cheia de juventude está muito para além dos quatro milhões de euros do seu projeto de restauro e modernização a cargo do Alexandre Alves Costa e do Sérgio Fenandes, que certamente terá a sobriedade do gosto destes Arquitetos. O conceito recupera e bem o que eu espero de um Centro de Cinema na Cidade, reinterpretando em termos contemporâneos a vocação de centro cultural para o cinema.

Da notícia do Público sublinho “a atenção à história do cinema, mas também à produção contemporânea, através da realização de sessões em formatos analógicos e digitais; a organização de debates; a exibição de obras que não tenham acesso ao circuito comercial ou aos festivais; a abertura a parcerias com os restantes programadores e festivais da cidade do Porto; o apoio à investigação nas áreas da história e da crítica cinematográfica, “dando particular atenção ao cinema realizado e produzido no Porto”; e a promoção do cruzamento disciplinar entre o cinema e as outras arte”.

Desta vez, a novidade e a recuperação do lugar do cinema na Cidade “vão mesmo no Batalha” e não é para duvidar depreciativamente à moda do Porto, é mesmo para usufruir e gozar o prazer da cultura contemporânea na Cidade.

Por este motivo e pela qualidade da escolha há que felicitar Rui Moreira e a sua equipa, até porque o Batalha vai ser, estou seguro, uma das dimensões que ficará do seu legado na sua passagem pelo Município.

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