quinta-feira, 25 de março de 2021

ESCARAMUÇAS NADA EDIFICANTES

(Morten Morland, http://www.thetimes.co.uk)

A tensão sobe a níveis quase inéditos entre Bruxelas e Londres, com o Conselho Europeu agora reunido no sentido de avaliar a gravidade da situação e as respostas a dar-lhe e de percecionar se é razoavelmente pensável chegar-se a uma posição interna comum entre os diferentes Estados membros no sensível dossiê das vacinas. Sendo que os episódios desta verdadeira novela são já espantosamente longos e variados, pelo que ainda não estaremos em condições de deles realizar uma síntese minimamente objetiva.

 

Sabe-se, isso sim é uma evidência, que: (i) BoJo não é flor que se cheire e gere a matéria num quadro em que persegue essencialmente uma missão “histórica” de nunca perder qualquer oportunidade de demonstrar que a solução Brexit foi a melhor para o seu país (e o desvio das vacinas ou os contorcionismos regulatórios ou aplicativos são instrumentos de que não prescinde); (ii) a administração da AstraZeneca não é mais do que uma teia já indisfarçável de interesses e influências (a descoberta, pelos carabinieri, de 29 milhões de doses em Itália com vista a uma exportação para o Reino Unido foi apenas mais uma prova disso mesmo); (iii) o “clube” está impregnado de oportunistas e amigos de ocasião, gente sempre pronta a defender com a bandeira nacional em punho a sua pele política imediata (a história da União está repleta de exemplos do género, sendo as atuais atitudes egoístas em matéria da vacinação por parte de húngaros, austríacos ou dinamarqueses meras réplicas desse tipo de lógica que dificilmente conduzirá a construção europeia a porto seguro); (iv) a burocracia europeia, com a presidente Ursula ao leme e o centralismo que fomenta, por vezes também estorva, embora o meu ponto seja aqui o de que a Comissão esteve mais bem do que mal e tudo tentou fazer para que se jogasse um jogo comum.

(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

(James Ferguson, http://www.ft.com)


Tudo isto é conjunturalmente tanto mais preocupante quanto Merkel está de saída e fortemente acossada pelos seus camaradas de partido face aos recentes resultados eleitorais da CDU e à sua manifesta tendência de perda nas sondagens (haverá eleições parlamentares em setembro e já se teme, para aqueles lados, a formação de uma alternativa de coligação traffic-light que afastaria os cristãos-democratas do poder) – terão sido, aliás, estas pressões a levarem Merkel a vir desdizer-se com muitas desculpas quanto ao confinamento pascal que tinha anunciado.

 

Termino explicitando o meu entendimento cada vez mais consolidado de que, dada a gravidade da situação que vivemos e a quantidade de “artistas” com que nos vamos deparando, toda e qualquer reação proativa e punitiva das autoridades europeias (naquela complexa dinâmica entre o Conselho, o Parlamento e a Comissão) só poderá ser considerada como justificável e saudada como bem-vinda.


(Sergey Elkin, https://www.dw.com)

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