Não será certamente muito relevante que o revele, mas o facto é que a minha consideração intelectual por Sérgio Sousa Pinto (SSP) tem vindo a aumentar com o tempo. Aprecio especialmente a sua crescente espessura, a sua corajosa independência e a sua assumida frontalidade. Mais um domínio em que Mário Soares viu longe quando apostou nele alguma da sua herança político-partidária.
Vem esta minha confissão a propósito da magnífica entrevista de SSP à “P2” de ontem, desenvolvida sob a batuta inigualável (nesta vertente) de Maria João Avillez. Comecei por ter alguns mixed feelings quando vi as capas, uma chamada de primeira página muito apelativa e bem confirmada no “miolo” (“o soarismo não tem hoje qualquer utilidade para a nova narrativa”) e uma chamada no caderno mais suscetível de discussão/contestação ao arriscar evoluir para zonas de “interpretação autêntica” sempre impossíveis de validar e sempre marcadas por leituras baseadas em subjetividades relacionais incomparáveis entre si (também conheci de perto Mário Soares e, não recusando a essência do que é dito nem deixando de reconhecer a proximidade única de SSP, entendo que há zonas cinzentas que nunca serão passíveis de um esclarecimento definitivo).
Não querendo tirar ao leitor o prazer de uma leitura na fonte, logo autêntica, cinjo-me aos grandes títulos. Desde logo, para assinar por baixo, e a bold, aquela ideia/convicção de que “o país deve a democracia a Mário Soares” (eu gosto mais de dizer a liberdade) e aquela referência à “memória de uma ótima história política”. Depois, para aplaudir sem reservas aquelas caraterizações de Soares como sendo “sobretudo alguém que sabia separar o essencial do acessório” e do soarismo como sendo “uma versão do socialismo que assenta numa ideia de que a manutenção das condições numa sociedade democrática, livre, pluralista, liberal, exige prosperidade”. Por fim, e acerca da atualidade, para valorizar os elementos de aviso que expressamente deixa ao seu partido e à respetiva governação – a metáfora de que poderemos acabar “numa Suécia fiscal implantada numa Albânia económica” é forte mas justa q.b. e a instalação em curso no PS de “um pensamento sem qualquer correspondência com a realidade” é de um realismo assustador, tanto quanto a arrepiante evidência de que os seus deputados “só na aparência falam para o país”, antes “estão a dirigir-se ao chefe, a fazer uma performance para ele”. Um aceno de estima para SSP!
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