sábado, 13 de março de 2021

O QUADRADO E A CRUZ VIGILANTES

 


(Toda a gente queria uma métrica para desconfinar. Já a temos. Mas talvez o mais desafiante esteja para além dos quatro quadrantes e do ponto em que nos situamos nesse referencial. Entretanto, as reações das forças políticas à métrica e ao plano de desconfinamento são confrangedoras. Confirmando a minha ideia de que se é complicado governar em pandemia não o é menos fazer oposição. Estou como o António Barreto (link aqui) nos diz hoje na sua crónica, precisam todos da nossa compaixão.

Não imaginaria que os diagramas de quatro quadrantes, que nós economistas utilizamos tanto em exercícios simples de combinatórias a duas variáveis estivessem no coração do plano de desconfinamento e das métricas a ele associadas. Mas toda a gente pedia uma métrica, o Governo convocou a ajuda dos cientistas e estes chegaram a um consenso que, para não complicar em demasia, utiliza o número de novos casos por 100.000 habitantes e o famigerado Rt como os barómetros dos valores a respeitar.

A figura dos quatro quadrantes vem acompanhada de uma calendarização como também era solicitado e mais importante do que o acelerador é o travão que António Costa provavelmente vai ter de usar se os números do desconfinamento começarem a inspirar reservas.

Resta a interrogação de saber como é que o travão vai ser acionado, se respeitando por ordem decrescente a hierarquia de situações estabelecida ou se indo por outros caminhos, esperemos que disso não tenha necessidade e se o tiver utilize a mesma escala.

Acho que muito dificilmente se poderia fazer melhor e por isso são confrangedores os comentários críticos registados das diferentes forças políticas. É bastante curiosa a divisão que se estabeleceu naturalmente. O PSD e o CDS assumiram gravemente o tom mais conservador de um desconfinamento mais lento (é ridícula a posição do Chicão ao assumir a fórmula de que o Governo preferiu a rapidez à segurança, quando a expressão a conta gotas foi a mais utilizada pelo Primeiro-Ministro). Por seu lado, à esquerda, praticamente todos pediam a abertura mais rápida do sistema de ensino. A posição do Governo é equilibra e capitaliza esta divisão que se estabeleceu nos comentários ao programa de desconfinamento, sobretudo em termos das categorias da prudência e da sensatez.

Com o penalizador confronto entre os resultados da vacinação na União Europeia face a outros blocos a pairar sobre as nossas cabeças e estando a União prestes a delapidar o capital que a pandemia lhe poderia assegurar em termos de supremacia da abordagem coletiva face ao desenrasca nacionalista e individual, os desafios que o Governo enfrenta são apenas em meu entender de capacitação logística. Se a logística da vacinação com o material que nos chega parece estar controlada e pronta para uma intensificação de ritmo, já sobre a testagem e rastreio de contágio os desafios permanecem, com relevo para a testagem das Escolas.

Atrever-me-ia a afirmar que o Governo recuperou o poder de controlo da situação que em certos momentos de janeiro e fevereiro tinha perdido. Paradoxalmente, neste momento, é mais no escrutínio do modo como a Presidência portuguesa da União vai ser exercida que se situam os grandes problemas do que propriamente na gestão nacional da pandemia. Para mim é essa a grande interrogação. Que postura vai ter António Costa em relação aos diretórios europeus? Afinal seis meses é muito pouco tempo para grandes inflexões.

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