Não será manifestamente um valor proibitivo aquele que está em causa na questão dos apoios sociais adicionais cujos diplomas foram ontem promulgados pelo Presidente da República contra a vontade do Governo e a sua argumentação em nome da chamada “lei travão”. Mas a questão é simbólica e basta ter ouvido a reação do primeiro-ministro (falando de uma mensagem “rica do ponto de vista da inovação” e “muito criativa, efetivamente”) para o perceber sem qualquer dúvida – um erro de avaliação, centrado numa confiança ilimitada nos seus poderes de envolvimento? Marcelo, por seu lado, veio mostrar quanto o seu discurso do rigor tem dias, ao mesmo tempo que assim fez notar no concreto que não hesitará em criar precedentes que lhe sejam conjunturalmente úteis (a imagem e/ou à tática) e aproveitou a oportunidade para pôr Costa em sentido quanto aos cuidados com que tem de abordar o resto da legislatura. Enquanto isso, os partidos da ex-geringonça aplaudiram (tal como o moribundo CDS), fazendo assim peito para novas incursões oposicionistas próprias de quem pode privilegiar a justiça social contra as duras realidades orçamentais. Tudo somado, nada de especialmente grave se não fossem um certo mal-estar que vai perpassando por entre as vénias e os sorrisos trocados pelos nossos maiorais, as irrupções de ingovernabilidade que crescentemente ressaltam e, sobretudo, a situação real que o País já atravessa quando a procissão ainda vai no adro.
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