quarta-feira, 31 de março de 2021

INDEPENDENTISTAS DE CANDEIAS ÀS AVESSAS

 


(Os media portugueses têm dedicado pouca atenção à saga da formação do governo regional na Catalunha. Até arrisco a explicar a razão. Com grandes adeptos na imprensa nacional, talvez não convenha realçar as razões de uma saga tão atribulada para constituir o governo da Generalitat com maioria absoluta de deputados no parlamento catalão na sequência das últimas eleições regionais.

Não tenho qualquer dificuldade de afirmar aqui a minha total falta de empatia com o independentismo catalão. A minha animosidade não resulta de qualquer preconceito em relação à causa catalã que bem compreendo e que ao longo do tempo tenho vindo com paciência a compreender historicamente socorrendo-me de visões cruzadas, de dentro e de fora, já que a interpretação da própria história da Catalunha tem que se lhe diga pois está inquinada de ideologia (centralista e independentista) que chegue.

Tenho animosidade sim mas em relação à progressiva degradação da qualidade intrínseca dos movimentos independentistas, entre os quais só a Esquerra Republicana cumpre os meus critérios simples de confiança para uma hipotética conversa.

O Junts per Catalunya capitaneado pelo franjinhas Puigdemont a partir de Bruxelas é uma amálgama dos sete diabos, não se pressentindo nas suas convicções qualquer modelo ou projeto de sociedade para a Catalunha. Tem atuado como se tivesse sido o partido mais votado, mas não, foi apenas o terceiro e tem dilatado a formação do governo regional com exigências estrambólicas que imagino as gentes da Esquerra já devem estar com vontade de os mandar às urtigas. O entusiasmo de alguma esquerda portuguesa pelo Junts é anedótico, só se compreende por preguiça mental ou falta de trabalho de casa. Posso concluir que a formar-se o governo regional, pois caso contrário estaríamos perante um falhanço colossal, a governação deve ser delirante. E assim vai o independentismo.

Por outro lado, a presença da CUP – Candidatura de Unidade Popular na maioria absoluta incorpora o radicalismo mais assanhado do independentismo, de base essencialmente local e apontando para o que de mais próximo situo no socialismo libertário de raiz mais ou menos violenta. Tenho dificuldade em encontrar um referencial similar em Portugal mas imaginem o que será um governo da Generalitat apoiado com as condições libertárias e autonomistas da CUP. Estamos conversados.

Tudo isto sob a supervisão ofegante da independentista Laura Borrás, que já ministra regional da Cultura eleita para a presidência do Parlamento da Catalunha via Junts per Catalunya. Não é difícil imaginar que atiça e não apaga fogos, podendo considerar-se hoje parte do problema da dilatação da formação de governo.

Se a atenção não me traiu, Pepe Aragonés candidato pela ER à Generalitat já falhou por duas vezes a sua investidura.

Tenho para mim que face ao “the show must go on”, as partes desavindas irão encontrar um acordo precário para lavar a face e colocar a tarjeta de a questão independentista segue dentro de momentos.

Mas, Deus meu, se isto é assim nos prolegómenos, que raio acontecerá quando passarem à ação? Por muito que custe a muita gente, nada de bom para a defesa dos interesses mais progressistas das condições de vida e de trabalho dos catalães.

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