sexta-feira, 5 de março de 2021

UM GRÁFICO, TODO UM PROGRAMA DE ESTUDO

 

                                                            (EPI, link aqui)

(Neste dia de transição penso que acelerada do inverno para a primavera, já encontrei uma flor nas aleluias que esperam ansiosas pela Páscoa, com o sol ameno a misturar-se deliciosamente com a neblina que paira sobre o rio Minho, deparo-me com este gráfico, e todo um programa de estudo emerge a partir da sua leitura. Por outras palavras, uma outra maneira de nos fixarmos no tema da desigualdade.

O gráfico elaborado pelo Economic Policy Institute (EPI) é daqueles que nos prende imediatamente a atenção e que, paradoxalmente, nos suscita todo um exercício de contenção explicativa. Afinal, são apenas duas curvas que divergem harmonicamente. O grau de desigualdade evolui opostamente à perda de representatividade dos sindicatos, tendo por referência a economia americana. O confronto entre duas curvas não constitui em si uma explicação. Mas é sem dúvida uma base excelente para interpretarmos uma das dimensões explicativas da desigualdade, o agudizar do crescente desequilíbrio de forças entre o crescente peso do capital e a perda de poder por parte dos sindicatos. Se acrescentássemos ao gráfico uma terceira curva, por exemplo, a do peso dos rendimentos do trabalho no rendimento total, veríamos que a curva segue de perto a perda de influência dos sindicatos.

Podem dizer-me que alguns sindicatos são máquinas de inércia, que privilegiam a defesa dos que têm emprego em detrimento da proteção dos que o perderam ou dos que procuram desesperadamente o primeiro emprego. Podem dizer-me que incomodam quanto baste, que falta a alguns o sentido de país e de contexto em que reivindicam, que são dirigidos por vezes por projetos pessoais de poder e não pela justa proteção dos seus representados.

É também necessário explicar o que significa a perda de sindicalizados, porque é que a confiança no poder protetor dos sindicatos diminuiu. Tudo isso pode ser objeto de escrutínio explicativo e de recolha de evidência.

Mas eu não quero imaginar um mundo do trabalho e das relações industriais sem sindicatos.

Será preciso mergulhar na selvajaria de um mercado de trabalho sem proteção para regressarmos ao bom senso e ao equilíbrio da relação de forças nesse mercado?

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