segunda-feira, 8 de março de 2021

COOPERAÇÃO, NEGÓCIOS À PARTE

 


(Ainda com a luz inconfundível da área ribeirinha do Minho a ocupar o meu horizonte visual, abro a minha assinatura digital da VOZ DE GALICIA (link aqui) e o título deste post emerge espontâneo. A TAP abre em 1 de junho de 2021 a ligação Santiago de Compostela – Lisboa, por 130 euros, ida e volta, e os galegos regozijam com a ligação à cidade de Pessoa e com a rede de outras ligações que tal proporciona, contornando a estrela de Madrid.

Posso considerar-me uma espécie de investigador-ator da cooperação Galiza-Norte de Portugal, que vem de há muito tempo quando participei, ainda como consultor da CCDR-N nos trabalhos preparatórios que conduziram à institucionalização do processo de cooperação, com direito a um Embaixador de Lisboa que acompanhava o processo. Se a memória não me atraiçoa ainda a Xunta da Galiza era presidida pelo meu Amigo e Professor na Universidade da Corunha Fernando Laxe. Apesar disso, sempre intuí que embora haja efetivamente uma grande aproximação afetiva e de proximidade, que chega por vezes a ser de cumplicidade, outros valores se levantam na cooperação. O objetivo da Galiza como comunidade autónoma é a aproximação a Lisboa, mostrando-se e tirando partido se possível do cosmopolitismo de Lisboa e das suas ligações internacionais. É sempre simbólico para os galegos contornar Madrid. Isso está no ADN político de qualquer comunidade autónoma que se preze, mesmo que não nacionalista e, muito menos, independentista como a Galiza conservadora do PP o é.

Depois de um grande reboliço essencialmente determinado pela posição justamente reivindicativa de Rui Moreira numa Região Norte que parece mais inclinada a prestar vassalagem à TAP, não embarcando em críticas públicas, mas preferindo claramente a Ryanair, a companhia aérea portuguesa que caminha a passos largos para uma TAPinha e com lios que bastem a envolvê-la (a questão da Groudforce é só mais uma) levou a água ao seu moinho e contorna o Porto Sá Carneiro com uma ligação a Santiago. Pela notícia da VOZ de GALICIA os galegos batem palmas, pois, por essa via, alargam consideravelmente o mapa de relações internacionais não passando por Madrid. Que se junta à sua conhecida frequência do Sá Carneiro (cujos indicadores objetivos deveriam ser publicados). Mas há uma nuance política entre as duas situações que convém recordar, numa Galiza tão sensível a certos aspetos. A ligação da TAP a Lisboa usa o aeroporto de Santiago de Compostela, sendo pacífica do ponto de vista local. Na prática, a iniciativa da TAP está a alargar as ligações internacionais da Região e daquele aeroporto. Já a frequência do Sá Carneiro, repito sem um indicador objetivo da sua importância real, é daquelas coisas que os Galegos gostam de praticar mas que não convém salientar muito. Afinal é sinal de uma perda de influência dos seus três aeroportos (uma invenção regionalista) para a cidade do Porto.

E por isso voltamos ao mesmo: cooperação, cooperação, mas negócios (políticos) à parte.

Não vale a pena levar a mal, a cooperação também se faz de cedências, algumas mais compreensíveis do que outras.

 

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