Obrigatória, porque merecida e reconhecida, esta referência ao centenário do Partido Comunista Português (PCP) que hoje se cumpre. Para memórias e detalhes, remeto para o excelente trabalho jornalístico do “Público” (chapeau!).
No que me toca, e desde que me conheço com algum grau de consciência cívico-política, sempre fui respeitador do papel do PCP na sociedade portuguesa, pesem embora pequenos desvios esquerdistas ou direitistas que também aconteceram. Para mim, o PCP é/foi as seguintes seis coisas positivas: (i) o partido essencial na resistência à Ditadura e na luta pela liberdade; (ii) um partido que deixou marcas indeléveis no aperfeiçoamento do modo de ser português e, em especial, no tocante a exemplos de disciplina e organização que tanto por cá escasseiam; (iii) o partido que teve ao seu comando um personagem tão fulgurantemente inteligente e tão fascinantemente estruturado quanto o foi Álvaro Cunhal; (iv) um partido que sempre foi sabendo, em democracia, ocupar o espaço adequado à sua efetiva capacidade de influência conjuntural e à sua inflexibilidade em relação a princípios essenciais; (v) o partido mais capaz de promover um rejuvenescimento interno sem o qual não pode haver uma presença social minimamente sustentada; (vi) um partido confiável e credível (vejam-se a “geringonça” ou os acordos com Jorge Sampaio em Lisboa) e largamente ausente das trapalhadas corruptas ou pouco transparentes de outros (mesmo quando no poder, sobretudo autárquico), o que não ilude alguma arrogância e muito dogmatismo (amplamente disfarçados pela humildade e bonomia do secretário-geral Jerónimo de Sousa, quase fazendo esquecer as acusações de um discurso de cassette que tanto predominaram e, afinal, ainda mantêm uma essencial razão de ser).
(Helder Oliveira, https://expresso.pt)
Não sei prever o futuro que espera um PCP “em busca de uma sociedade que ainda não existiu” (mas estará mesmo?), especialmente num momento em que os ventos não sopram a favor de causas solidárias; vejo-o, aliás, em queda de representatividade e a ter de partilhar a contragosto algum protagonismo à esquerda com o Bloco; vejo-o também a abraçar posições menos compreensíveis e até conservadoras (do Euro à eutanásia, p.e., passando pelo movimento sindical, por leituras inconcebíveis da realidade internacional e por associações contranatura no Parlamento Europeu, entre tantas mais) e a descaraterizar-se por excesso de personificação na figura competente e bem falante mas não simpática e mobilizadora de um omnipresente João Ferreira; mas sempre direi, tudo visto e ponderado, que estimo que ainda faltarão alguns anos até que o seu lugar de esteio possa ser descartado. Até lá, o que quer que esse lá venha a significar, o PCP andará por aí, atento e combativo, portanto útil a Portugal.
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