segunda-feira, 8 de março de 2021

OS PEDROS



Dois Pedros socialistas estiveram na berlinda do editorial de João Vieira Pereira (JVP), diretor do “Expresso”. Acho que entendi o racional, mas duvido que ele tenha verdadeiro cabimento na sua essência. 

Isto porque – sendo ambos políticos com algum historial começado na “jota”, sendo ambos jovens e ambiciosos e sendo também ambos dotados de grande capacidade de trabalho e de um bom grau de competência “técnica” – as respetivas semelhanças acabam por aí. Tudo o mais os diferencia, entre uma presença tímida e pouco convincente (o Marques) e uma presença forte e muito combativa (o Santos), uma certa falta de jeito no contacto de rua (o Marques) e um grande à-vontade na dimensão relacional (o Santos), uma preferência pela calma dos bastidores e dos gabinetes (o Marques) e uma procura permanente de terreno e disputa (o Santos), uma postura conciliadora e obediente (o Marques) e uma atitude afrontativa e desafiadora (o Santos).

É claro que ambos passaram pelo posto governativo que JVP elege para os aproximar (a tutela das Infraestruturas, em especial), mas parece exagerado comparar os tempos e as circunstâncias (entre gerir a privatização da TAP da forma canhestra como ela foi feita e depois retomar algum controlo de capital para inglês ver, por um lado, e preparar uma hipotética salvação da TAP, por outro lado, a incomparabilidade é total). Tal como seria injusto esquecer o papel de Pedro Nuno na gestão da “geringonça” e equipará-lo à passagem de Pedro Manuel pela Segurança Social sob a asa protetora de Vieira da Silva. Ou não ter em conta a dinâmica de envolvimento partidário do primeiro (designadamente a partir da Distrital de Aveiro) versus o desaparecimento em combate do segundo no contexto do Parlamento Europeu onde está quase incógnito.

Por fim, e dito tudo isto, não apostaria tanto como já apostei na viabilidade efetiva de um potencial exercício de Pedro Nuno à frente do PS – não tanto porque não tenha a energia e a convicção necessárias e porque não tenha razão bastante quando define como desajustada a atual arrogância absolutista do PS, mas sobretudo porque os tempos não estão a evoluir de molde a que possa ser considerada pertinente e exequível uma estratégia assente na ideia de que a geringonça “não pode ser um parêntesis na história” e em que o PCP e o Bloco sejam “fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa”; apenas e só, como dizem os futeboleiros, porque a grande questão de Portugal não é essa e não irá passar principalmente por aí...

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