(The James Webb Space Telescope will travel 1.5 million kilometres from Earth and look back thirteen billion years. Illustration by Jonathan Djob Nkondo)
(Tempo de férias é para mim essencialmente procura de curiosidades, interesses por leituras diferentes que o pesado dia a dia em termos de obrigações, não imaginam a magnitude de leituras que a vida de consultor nos impele, faz colocar em filas de espera intermináveis, algumas das quais fenecem nessa qualidade. A astronomia está nesse campo de profundidades científicas curiosas. Muitos na minha geração renderam-se à maravilha dos programas de Carl Sagan. Infelizmente na minha vida profissional mais corrente poucas oportunidades tive para me render às maravilhas do universo galáctico. Recordo apenas três: (i) os trabalhos preparatórios que conduziram à criação do Planetário do Porto; (ii) os trabalhos do Plano Estratégico da Universidade do Porto em que tive oportunidade de entrevistar o responsável pelo Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e (iii) o estudo do domínio de potencial de especialização em torno das tecnologias do espaço e de observação da Terra no âmbito da revisão da Estratégia Nacional de Especialização Inteligente.)
Pois a New Yorker, número de 16 de agosto (link aqui), dá-me conta do entusiasmo que grassa pela comunidade científica da astronomia com o futuro lançamento de um portentoso telescópio, o James Webb Space, qualquer coisa que implicou 25 anos de trabalhos e dez milhares de milhões de dólares de custo de produção. Este bicho de alcance até há bem pouco tempo inimaginável será deslocado de Los Angeles em viagem delicada por mar para Kourou na Guiana francesa, a partir da qual será lançado para o espaço no foguetão Ariane 5. Durante cerca de um mês o James Webb Space entrará em órbita a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, fornecendo a partir daí informação, presume-se que em excelentes condições de transmissão e de imagem.
Dirão alguns mais experientes neste domínio o que há de excecional neste evento, já que de lançamento de foguetões e telescópios as notícias não escasseiam.
A excecionalidade do James Webb Space está na sua capacidade de observação, esperando-se que ele e as suas câmaras de nova geração tecnológica permitam captar luz de acontecimentos que se produziram há milhares de milhões de anos, ou seja do tempo de formação das primeiras galáxias e estrelas. E aqui está a dimensão fantástica da astronomia. A lua que vemos todas as noites é a luz de 1,3 segundos atrás, dada a velocidade da luz. Se visualizarmos Júpiter a imagem que veremos é de há quarenta minutos atrás. Mas se conseguirmos visualizar a galáxia Andrómeda, a que está mais perto de nós, será a imagem de há 2,5 milhões de anos que veremos. Na feliz expressão do astrónomo David Helfand da Universidade de Colúmbia em Nova Iorque, o mundo mostra-se-nos como se de um livro se tratasse. Se o quisermos ver na sua configuração de há dez milhares de milhões de anos teremos de ver a uma distância de 10 milhares de milhões de anos-luz. É este mesmo astrónomo que nos diz que o James Webb Space nos trará grandes novidades em duas dimensões – na dimensão do “muito longe” e na de “muito perto”. Através da primeira, se tudo correr bem o James Webb Space permitirá olhar para 13,5 milhares de milhões de anos atrás, em que o universo teria cerca de um quarto de um milhar de milhão de anos de idade. A dimensão do “muito perto” consistirá sobretudo na captação de informação sobre planetas fora do sistema solar, o primeiro dos quais foi descoberto apenas há 25 anos, número que passou rapidamente a 200 em 2005. Estes planetas têm a particularidade de não emitirem luz e a sua presença ser reconhecida através de reações (o equivalente a uma pegada) quando passam diante de uma estrela que podem ser descodificadas.
O fascínio de tudo isto é compreensível. Bem entendo o entusiamo dos que vivem a ciência da astronomia a fundo e provavelmente a perplexidade que sentirão quando alguém lhes vem falar da translação de conhecimento para as empresas e para a sociedade em geral.
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