quarta-feira, 4 de agosto de 2021

SIZA REVERTE UM CLÁSSICO DA NOSSA GESTÃO POLÍTICA

 

O caso da insolvência da Dielmar é sobretudo trágico pela situação pessoal e social que provoca, quer pelos danos associados a 300 trabalhadores em risco de desemprego quer pelas respetivas consequências no plano regional (Alcains, Castelo Branco). Segundo as informações tornadas públicas pelo Ministério da Economia, e ao invés do declarado pelos responsáveis pela gestão da empresa que procuraram atribuir um nexo essencial de causalidade entre a dita insolvência e a pandemia, o processo é do foro do que de mais clássico temos vindo a conhecer ao longo das últimas décadas em Portugal, entre má gestão privada (ou, frequentemente, gestão danosa) e completa inconsequência política (seja por simples ingenuidade, seja por incompetência e conluio motivados por procuras de popularidade fácil ou eleitoralismo primário).

 

Pedro Siza Vieira saiu agora dessa linha habitual ao decidir corretamente que não vale a pena pôr mais dinheiro fresco em cima de uma situação insolúvel — coisa que tantos antes dele não fizeram em múltiplos casos perdidos e que custaram milhões aos cofres do Estado ou comunitários (recordo, por o ter conhecido de perto o indescritível caso da Investvar, que ostentava a então famosa marca de sapatos Aerosoles e uma rede de lojas que ia até Nova Iorque) —, imagino que após ver goradas (ou torpedeadas?) as mais variadas tentativas de encontrar uma saída minimamente airosa (abaixo alguns dos principais momentos sintetizados pelo “Jornal de Negócios”, em versão limpa de elementos explicitamente pornográficos, do que foi a sucessiva agonia que marcou a sobrevivência da Dielmar no seu relacionamento com uma sempre tolerante esfera pública).

 

Dito e sublinhado isto, importará ainda insistir na ideia de que o tal “Reconstruir Melhor” que buscamos (ou devíamos buscar para sairmos da cepa torta) exigirá necessariamente uma crescente tomada de atitudes corajosas desta natureza, distinguindo com clarividência o que é uma real viabilidade económica do que tem de ser deixado ao assistencialismo social; isto por forma a que consigamos garantir um futuro de mais pujante criação de riqueza (que não se faz com a excessiva dose de empresas zombies que por aí pululam) e maior sustentabilidade redistributiva da mesma.

 

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