terça-feira, 3 de agosto de 2021

IMAGENS DOS JOGOS

 


(Não me recordo de Jogos Olímpicos com acompanhamento menos entusiástico e regular da minha parte, não sendo seguramente capaz de apresentar razões para esse afastamento. Apesar disso, registo imagens marcantes, algumas das quais com um significado simbólico muito especial. O tema ideal para aguentar esta transição para a modorra estival que me apoquenta regra geral por esta altura, este ano remetida para a frente por este bravio e instável agosto.)

Do muito pouco tempo que tenho dedicado aos jogos, o momento mais denso e simbólico é sem dúvida a final do triplo salto feminino. Não apenas porque a nossa elegante, culta e determinada Patrícia Mamona nos ofereceu uma prestação notável de rigor, perseverança, confiança e amor por este País multicultural que nos vai diferenciar no futuro. E que nos encantou a todos. Mas a final do triplo foi muito mais do que isso e muito mais do que um contributo relevante para a nossa autoestima.


Em primeiro lugar, porque a venezuelana Yulimar Rojas foi protagonista de um salto memorável, sobretudo aquela última fase do triplo em que depois de um segundo impulso espantosamente curto o terceiro catapultou a atleta para uma subida ao céu que lhe garantiu aquela marca estratosférica. Se nos recordarmos que Yulimar é uma atleta fortemente comprometida com causas cívicas e que a galega Ana Peleteiro, curiosamente namorada de Nélson Évora, alinha também pela defesa do papel dos atletas de cor em Espanha (link aqui) protagonizou uma das mais arrepiantes manifestações de júbilo em pista pela vitória de Yulimar Rojas. 

Mas, como Patrícia Mamona exemplarmente nos transmitiu e descreveu, a tensão permanente da final foi impressionante e de uma grande intensidade, tudo isto sem a massa de público o que é verdadeiramente ímpar nos eventos desportivos. 

 Quando visualizamos a fotografia final das medalhadas estamos longe de perceber a tensão que antecedeu aquela felicidade a três.

Outras imagens de perda, derrota, infortúnio e até raiva. Como a despedida inglória de Nélson Évora com aquela lesão na virilha que deveria ter acontecido noutra altura, não naquele momento, em contraste com a da sua namorada e companheira Ana Peleteiro. 

Ou também a sensação frustrante do quarto lugar da portuguesa Auriol Dongmo ou o percalço da chuva que terá muito provavelmente travado a surpresa da nossa Liliana Cá no disco. Ou ainda a pesada figura do adeus de Pau Gasol com a derrota espanhola no basquetebol frente aos instáveis EUA de Kevin Durant. 

E como pretendo acabar com imagens esperançosas, porque não recordar a alegria da galega Teresa Portugal que ao fim de seis edições de Jogos conseguiu, finalmente, aos 39 anos, ganhar a sua medalha (somos tão transfronteiriços que Portugal e Espanha apresentaram duas valentes canoístas, ambas Teresas Portela, Norte e Galiza, que tal?). E, para acabar, o símbolo do regresso para o bronze de Simone Biles na trave olímpica, depois do seu abandono.


Sem comentários:

Enviar um comentário