Fim de mês, fim de festa em matéria de dolce far niente; ou, mais exatamente, de rotinas diferentes e menos exigentes, que não por vezes intelectual ou fisicamente menos cansativas. Este ano ficou marcado por umas férias sem as aventuras longínquas de que tanto gosto e que já interrompera em 2020 por forçosos motivos pandémicos; foram assim umas férias aparentemente plenas de vulgaridade mas sobretudo cheias de sentido. Porque, por um lado, aproveitadas para “matar o borrego” da minha vergonhosa virgindade açoriana (visitando cuidadamente três belas e diversas ilhas, São Miguel do Grupo Oriental e Faial e Pico do Grupo Central), sem interromper depois a habitual circulação entre praia poveira e campo tirsense; mas também porque, por outro lado, várias razões proporcionaram retomas de contactos, convívios há muito adiados e até encontros imprevistos, juntando ao inigualável sabor do descanso adicionais outros paladares feitos de afetos quase inconscientemente adormecidos.
Alguns destes reencontros passaram por tocantes revisões ao vivo da matéria dada (leia-se acontecida) em conversas de amigos, como com o Francisco e as suas novidades bruxelenses, o Manel e a sua calma e bonomia à sombra da casa de Moledo ou a Ana e os relatos da sua fascinante experiência de vida pessoal, diplomática e política (sempre com a “presença” do António por perto). Outros trouxeram gente próxima que há muito estava fora da vista, como uma prima “alemã” e as histórias dos seus filhos deslocados de casa para estudo e trabalho (ela já a trabalhar numa consultora em Bremen), a filha de uma querida amiga a instalar-se em Istambul por via de um novo trabalho do marido no quadro das Nações Unidas (após Nova Iorque e Jordânia, nomeadamente), os filhos de um amigo desaparecido que evoluem academicamente pelo mundo (ele agora a ensinar em Singapura, após PhD em Berkeley, e ela instalada em Leipzig, após a recente maternidade que se seguiu a um doutoramento em Gotemburgo, Suécia), um primo destes que há muito fez base em Ancara mas circula estonteantemente por paragens ecológico-desportivas de todo o tipo (e vinha de deixar o filho mais novo em Roterdão para início de estudos de Economia) ou uma prima por afinidade que se instalou matrimonialmente em Aveiro e por lá vive algo “fora da caixa” e aberta a escolhas políticas liberais que nunca marcaram as suas opções anteriormente conhecidas.
Mas houve ainda algo de completamente diferente na tarde passada com o Leandro (o talentoso, criativo e extraordinariamente popular — mais de dois milhões de seguidores no “Instagram”! — rapper, compositor e poeta brasileiro Emicida — “ano passado eu morri / mas esse ano eu não morro” —, titular de um “Grammy Latino” e protagonista de “AmarElo” — vejam no “Netflix”) e a Marina (a Marina Santa Helena que é, nomeadamente, coautora de um dos podcasts mais ouvidos no Brasil, agora no “Spotify”, designado “Um Milkshake chamado Wanda”), dois personagens de muito fina sensibilidade musical, cultural e social e a quem o meu filho mais velho está particularmente ligado em termos profissionais (no quadro da “Laboratório Fantasma”, uma editora independente que é também uma agência de artistas, uma promotora de concertos, uma produtora de conteúdos audiovisuais e uma marca de roupa) e, seguramente, também pessoais.
Perante todo este panorama, que aqui apenas indicio sem referir netos e livros, posso sem dúvida dizer que entro em setembro de papo bem cheio!
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