terça-feira, 10 de agosto de 2021

MÚSICA PARA PREPARAR A MODORRA

 


(A resistência e a poética jazzística de Charles Lloyd acompanham-me há muito com algumas visualizações ao vivo como o foram uma tarde inesquecível nos jardins em Serralves e a última passagem pelo Festival de Jazz de Guimarães na aconchegada sala do Vila Flor. Agora já no seu terceiro disco com os The Marvels, um quinteto com o próprio Lloyd no saxofone e na flauta, Bill Frisell na guitarra, Greg Leisz na guitarra de pedal, Reuben Rogers no baixo e Eric Harland na bateria, Lloyd não se cansa de oferecer melopeias e outras narrativas sonoras que tendo a associar ao gozo da modorra estival, abrindo caminho a grandes paisagens oníricas. E para acentuar a força incomparável dos graves, nada melhor do que um vinyl, caro p’ra burro, mas que vale a pena saltar da cadeira ou do sofá por tês vezes para usufruir das quatro bandas.)

Os 83 anos de Lloyd levam-nos a degustar cada um dos seus discos e improvisações com mais atenção, sempre naquela estranha sensação de poder ser o último dos momentos de criação que uma personalidade e uma inventiva musical tão ricas nos podem oferecer. Desta vez, temos incursões pelo mundo de Ornette Colemann (com duas faixas, Peace e Ramblin), Thelonious Monk e Leonard Cohen (Anthem), reinventados pela criatividade do agrupamento, mas acabar com mais de 8 minutos de Prayer equivale à certeza de que permanecemos ao universo Lloydiano dos últimos tempos, independentemente do agrupamento com que partilha a sua arte.

Estamos em tempos de férias que puxam mais pela imaginação do que pela experiência do movimento ou da ação.

Por isso, TONE POEM é a minha forma muito particular de antecipar a modorra de segunda metade de agosto (link aqui).

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