Três apontamentos finais a propósito dos recém-terminados Jogos Olímpicos de Tóquio. O primeiro para sintetizar a glória das medalhas obtidas na sua distribuição por países. Com dez pontos a relevar: (i) a clara vitória dos EUA, quer em número de medalhas totais obtidas, quer em número de medalhas de ouro; (ii) a clara posição de “segunda potência” ostentada pela China; (iii) as diferenças de classificação verificadas entre o Japão, a Grã-Bretanha e o Comité Olímpico da Rússia, ordenadas por esta ordem em termos de número de medalhas totais mas exatamente ao invés se considerada uma pontuação que pondere a importância relativa das mesmas; (iv) o excelente comportamento da Austrália, sexta melhor do ranking; (v) o registo dos previsíveis quatro países mais medalhados da União Europeia, pese embora com a Itália e os Países Baixos a posicionarem-se comparativamente acima da Alemanha (uma das surpresas negativas dos Jogos) e França; (vi) os bons resultados dos primeiros países imediatamente abaixo do top-ten, Canadá e Brasil; (vii) os resquícios da URSS patentes nas medalhas húngaras, polacas e checas; (viii) as intromissões de Cuba, Coreia, Quénia e Jamaica nos lugares cimeiros, embora largamente funcionalizadas a modalidades muito específicas de especialização; (ix) o 56º lugar de Portugal (58º segundo a pontuação alternativa), num total de 93 países medalhados; (x) a péssima prestação da Finlândia que, com apenas duas medalhas de bronze, só logrou ficar à frente da unicidade de Botsuana, Burkina Faso, Costa do Marfim, Gana, Granada. Kuwait, Moldávia e Síria.
Uma segunda nota sobre situações pessoais, políticas e sociais onde sobressaíram, para além das manifestações diversas de desportivismo, nacionalismo e solidariedade em relação a causas, os mais visíveis casos das americanas Simone Biles (ginástica) e Raven Saunders (lançamento do peso) e da bielorussa Kristsina Tsimanouskaya (estafeta de atletismo), a primeira sofrendo uma quebra psicológica só verdadeiramente compreensível para quem lá anda (redimida pela sua decisão de participar na última prova individual e pela obtenção de um bronze), a segunda pela sua visibilidade no pódio prateado (levantando os braços e cruzando-os sobre a cabeça, num X que é “a interseção onde se encontram todas as pessoas oprimidas” e sobre o qual declarou que “grito para todos os meus negros, grito para toda a minha comunidade LGBTQ, grito para todo o meu povo que lida com saúde mental”) e a terceira pelo mal-entendido suscitado pela organização da comitiva bielorussa (que a quis obrigar a correr a estafeta 4x400 na véspera da sua especialidade de 200 metros) e a levou a um refúgio na embaixada da Polónia (assim aproveitando este país para nova denúncia internacional da ditadura de Lukashenko).
Por fim, e em terceiro lugar, uma referência às prestações atléticas propriamente ditas, pela minha parte sempre naturalmente enviesadas por aquele que é o meu desporto olímpico favorito, o Atletismo. E, neste quadro, recordes mundiais sempre são recordes mundiais... e foram nove (quatro masculinos e cinco femininos, bastante distribuídos em termos geográficos) no total: dois noruegueses (Karsten Warholm nos 400 metros barreiras e Jakob Ingebrigtsen nos 1500 metros), dois americanos (Ryan Crouser no lançamento do peso e Sydney McLaughlin nos 400 metros barreiras), um canadiano (Damian Warner no decatlo), uma jamaicana (Elaine Thompson-Herah nos 100 metros, somando mais dois ouros nos 200 metros e na estafeta), uma porto-riquenha (Jasmine Camacho-Quinn nos 100 metros barreiras), uma queniana (Faith Kipyegon nos 1500 metros) e uma venezuelana (Yulimar Rojas no triplo-salto). Com uma holandesa de origem etíope (Sifan Hassan) a merecer um aceno especialíssimo pelos seus três pódios nas corridas de fundo (dois ouros nos 5000 e 10000 metros e um bronze nos 1500).
Outras distinções a fazer serão, do meu ponto de vista necessariamente muito limitado, as das três medalhas do canadiano Andre De Grasse (o ouro nos 200 metros foi ao encontro do vaticínio de sucessão proveniente de Usain Bolt), as cinco de ouro do nadador norte-americano Caeleb Dressel e as sete (sendo quatro de ouro) da nadadora australiana Emma McKeon, além do basquetebolista Kevin Durant (liderando a sua equipa nacional para mais um título olímpico e batendo o respetivo recorde histórico de pontos), da adolescente (14 anos) saltadora aquática chinesa Quan Hongchan (dois mergulhos com nota máxima na plataforma de 10 metros e recorde mundial), do veterano futebolista brasileiro Dani Alves (título nº 43 da carreira deste capitão da jovem equipa canarinha), do mais novo pódio de sempre (duas japonesas de 13 e 16 anos e uma brasileira de 13, total 42 anos, no skate feminino), do voleibol polaco comandado por um espantoso jogador originário de Cuba (Wilfredo León), do mesa-tenista chinês Ma Long (aqui representando a minha deformação profissional em termos desportivos) e dos registos curiosos dos vencedores ex-aequo do salto em altura (o italiano Gianmarco Tamberi e o catari Mutaz Essa Barshim, por decisão mútua) e da velocista norte-americana Allyson Felix (que, aos 35 anos, conseguiu a sua décima medalha olímpica).
Muito fica por referir, certamente de modo bastante imerecido para diversos atletas de eleição; mas foi esta a realidade que se me ofereceu, e quem dá o que tem... Mais só daqui a três anos em Paris!
Sem comentários:
Enviar um comentário