(Por cá, a cândida mas determinada primeira-Ministra em exercício, Mariana Vieira da Silva, no seu tirocínio de governação para mais altos voos, anuncia a antecipação de regras menos constrangedoras quanto à vida económica e social. Deveríamos, por isso, gozar desta distensão, mas o raio da informação circula vertiginosamente e o que as notícias de Israel nos trazem não auguram boa coisa. Afinal, o pequeno país que esteve no topo da rapidez de vacinação e conteve com relativa rapidez a incidência pandémica está às voltas com o que tudo indica tratar-se de uma quarta onda. E a pergunta incómoda não pode deixar de ser feita: porquê?)
A mente perversa de Netanyahu estará seguramente a preparar o aproveitamento político da situação. Mudança de governo em Israel com afastamento do corrupto e controverso antigo primeiro-Ministro israelita e, por ironia do destino, a gestão pandémica ensaiada com êxito pelo país enfrenta agora o intrigante regresso da incidência da contaminação pandémica. O que suscita obviamente várias questões e todas elas com alguma incomodidade.
Afinal, o que é que explica que um país que avançou célere para a vacinação generalizada registe as vulnerabilidades que os números revelam?
Pelo que tenho lido de fontes jornalísticas e científicas credíveis, três razões convergem para esta chegada da quarta onda a um país com elevada taxa de vacinação:
- As ameaças da nova variante (nova é como quem diz, pois por exemplo os números de Portugal apontam para uma incidência da variante Delta de bem mais de 95%);
- A perda de capacidade de proteção das vacinas à medida que o tempo passado da inoculação aumenta, em parte reforçada com a incidência da nova variante;
- A desmobilização da população em matéria de práticas pessoais e organizacionais de proteção face à transmissão do vírus largamente induzida pelo próprio Governo face aos bons resultados atingidos em termos de controlo da incidência e da vacinação e à ilusão da chamada “imunidade de grupo”.
O New York Times avança (link aqui) com a evidência de que pelo menos parte uma parte significativa do surto foi originado pela infeção de um jovem ainda sem idade para vacinação que regressado de férias da Grécia com a família terá sido enviado à escola sem cumprimento das práticas obrigatórias de quarentena e testagem.
Estes processos são perturbadores sobretudo pelos efeitos penalizadores que podem trazer sobre a confiança na proteção das vacinas e lá voltamos nós à convicção de que a vacina não evita a transmissão, tudo dependendo da carga viral que os indivíduos transportam se infetados após a vacinação completa. E têm ainda um outro efeito pernicioso – minar a solidariedade entre países e conduzir os mais poderosos a uma precipitada terceira dose de vacinação, como está aliás a acontecer em Israel e nos EUA.
Por comparação com Portugal, temos a vantagem de atingirmos elevadíssimas taxas de vacinação com a variante Delta já amplamente disseminada em Portugal, o que contrasta com Israel que atingiu essa elevada vacinação ainda sem uma grande disseminação dessa variante.
Mas a moral da história parece ser a de a abertura social e económica não dever implicar imediatamente a desmobilização das medidas de higiene sanitária e de proteção em grandes aglomerações e interiores, o que espero que seja um dado adquirido para as autoridades portuguesas.
A prudência não deve descasar-se com a elevada taxa de vacinação. A comunicação de Mariana Vieira da Silva não ignorou esse facto e isso é um sinal, que contrasta com o vindo de Israel.
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