quinta-feira, 19 de agosto de 2021

FINALMENTE ALGUNS ELEMENTOS SOBRE TRANSMISSIBILIDADE

 

                                                                    (The Guardian)

(Anotei aqui há dias algumas interrogações sobre as condições de transmissibilidade do COVID 19 na perspetiva do confronto entre pessoas totalmente vacinadas (já agora 70% de população totalmente vacinada esta quarta feira é algo de que nos podemos orgulhar) e pessoas não vacinadas ou parcialmente vacinadas. A minha perplexidade respeitava essencialmente à falta de informação sobre a matéria e consequentemente a decisão prudencial de manter toda a proteção possível enquanto nova e credível informação chegasse. Finalmente, vinda do Reino Unido, chega alguma informação mas ainda carregada de dúvidas de confirmação.)

A evidência que chega do Reino Unido (link aqui), estudo realizado pela Universidade de Oxford em colaboração com o INE britânico e o Departamento de Saúde e Cuidados Sociais confirma a capacidade de proteção das vacinas face a situações de hospitalização necessária e de morte (algo que já sabíamos) mas traz algo de novo sobre o confronto quanto à capacidade de acolhimento do vírus em pessoas totalmente vacinadas e sem vacinação. A variável que faz a diferença é a variante Delta. Se infetados por esta variante, o estudo invocado pelo Guardian (ainda sem revisão de pares) conclui as pessoas totalmente vacinadas podem transportar a mesma carga viral que uma pessoa não vacinada transporta. Mas isso não significa que haja elementos que esclareçam as condições de transmissibilidade por uns e outros. Para minha surpresa, não existe ainda informação e credível sobre os níveis de transmissibilidade a partir de pessoas infetadas após vacinação, já que a carga viral pode existir por períodos de tempo mais reduzidos e com isso reduzir a probabilidade de transmissão. O que significa que os efeitos da nova variante Delta sobre a capacidade de proteção da vacinação continuam em grande medida por determinar, embora seja visível uma diminuição dessa proteção.

Persiste assim a dúvida sobre a transmissibilidade do vírus a partir de pessoas totalmente vacinadas, mas enquanto nova e credível informação não surgir a boa prudência aconselha comportamentos que tendam a reduzir essa probabilidade. Mas a principal consequência a retirar é a da mais que provável ilusão da imunidade de grupo e lamento dizê-lo mas a questão não é bem a de ajustar a percentagem de população totalmente vacinada que a define, por exemplo 85% e não 70%.

E uma informação que é importante cá para o rapaz é que a mais largo prazo (quatro ou cinco meses após a vacinação) a vacina da AstraZeneca protege praticamente tanto como a Pfizer Biontech ou Moderna, compensando a menor capacidade de proteção imediatamente após a inoculação. Já é alguma coisa de positivo.

Nota final:

É cada vez mais evidente que a avaliação de resultados da gestão pandémica mais do que uma corrida de fundo é uma maratona. Que o digam, por exemplo, a Nova Zelândia e a Austrália que, muito bem cotadas em termos de decisões de confinamento rápido, se encontram a braços com taxas de vacinação muito baixas em confronto com os países como Portugal que arrepiaram caminho nessa matéria.

E já agora o confronto de incidência e de letalidade entre os EUA e o Canadá, com desempenho largamente favorável deste último, nos mostra o azar tremendo que teríamos de viver num país com direita negacionista e antivacinas. Que os Deuses nos livrem de tal praga!

Nota complementar de 20.08.2021

No Expresso de hoje, um artigo de António Pedro Machado e Tiago Marques (internista e infecciologista) toma posição de forma clara sobre a possibilidade de pessoas vacinadas serem fonte de transmissão de vírus, embora possa registar-se uma menor probabilidade devido à redução de carga viral. Embora o artigo não se refira a investigação de referência para o caso do SARS COV-2, é pelo menos claro no seu argumento, que aponta obviamente para a continuação de formas de proteção dos mais vulneráveis, mesmo que vacinados. 

Sem comentários:

Enviar um comentário