(The Guardian)
(Anotei aqui há dias algumas interrogações sobre as condições de transmissibilidade do COVID 19 na perspetiva do confronto entre pessoas totalmente vacinadas (já agora 70% de população totalmente vacinada esta quarta feira é algo de que nos podemos orgulhar) e pessoas não vacinadas ou parcialmente vacinadas. A minha perplexidade respeitava essencialmente à falta de informação sobre a matéria e consequentemente a decisão prudencial de manter toda a proteção possível enquanto nova e credível informação chegasse. Finalmente, vinda do Reino Unido, chega alguma informação mas ainda carregada de dúvidas de confirmação.)
A evidência que chega do Reino Unido (link aqui), estudo realizado pela Universidade de Oxford em colaboração com o INE britânico e o Departamento de Saúde e Cuidados Sociais confirma a capacidade de proteção das vacinas face a situações de hospitalização necessária e de morte (algo que já sabíamos) mas traz algo de novo sobre o confronto quanto à capacidade de acolhimento do vírus em pessoas totalmente vacinadas e sem vacinação. A variável que faz a diferença é a variante Delta. Se infetados por esta variante, o estudo invocado pelo Guardian (ainda sem revisão de pares) conclui as pessoas totalmente vacinadas podem transportar a mesma carga viral que uma pessoa não vacinada transporta. Mas isso não significa que haja elementos que esclareçam as condições de transmissibilidade por uns e outros. Para minha surpresa, não existe ainda informação e credível sobre os níveis de transmissibilidade a partir de pessoas infetadas após vacinação, já que a carga viral pode existir por períodos de tempo mais reduzidos e com isso reduzir a probabilidade de transmissão. O que significa que os efeitos da nova variante Delta sobre a capacidade de proteção da vacinação continuam em grande medida por determinar, embora seja visível uma diminuição dessa proteção.
Persiste assim a dúvida sobre a transmissibilidade do vírus a partir de pessoas totalmente vacinadas, mas enquanto nova e credível informação não surgir a boa prudência aconselha comportamentos que tendam a reduzir essa probabilidade. Mas a principal consequência a retirar é a da mais que provável ilusão da imunidade de grupo e lamento dizê-lo mas a questão não é bem a de ajustar a percentagem de população totalmente vacinada que a define, por exemplo 85% e não 70%.
E uma informação que é importante cá para o rapaz é que a mais largo prazo (quatro ou cinco meses após a vacinação) a vacina da AstraZeneca protege praticamente tanto como a Pfizer Biontech ou Moderna, compensando a menor capacidade de proteção imediatamente após a inoculação. Já é alguma coisa de positivo.
Nota final:
É cada vez mais evidente que a avaliação de resultados da gestão pandémica mais do que uma corrida de fundo é uma maratona. Que o digam, por exemplo, a Nova Zelândia e a Austrália que, muito bem cotadas em termos de decisões de confinamento rápido, se encontram a braços com taxas de vacinação muito baixas em confronto com os países como Portugal que arrepiaram caminho nessa matéria.
E já agora o confronto de incidência e de letalidade entre os EUA e o Canadá, com desempenho largamente favorável deste último, nos mostra o azar tremendo que teríamos de viver num país com direita negacionista e antivacinas. Que os Deuses nos livrem de tal praga!
Nota complementar de 20.08.2021
No Expresso de hoje, um artigo de António Pedro Machado e Tiago Marques (internista e infecciologista) toma posição de forma clara sobre a possibilidade de pessoas vacinadas serem fonte de transmissão de vírus, embora possa registar-se uma menor probabilidade devido à redução de carga viral. Embora o artigo não se refira a investigação de referência para o caso do SARS COV-2, é pelo menos claro no seu argumento, que aponta obviamente para a continuação de formas de proteção dos mais vulneráveis, mesmo que vacinados.
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