sexta-feira, 13 de agosto de 2021

VOGANDO NA MODORRA

 


(Cá estou eu em modo de férias ou do que mais se lhe assemelha. Com as particularidades muito próprias de quem trabalha a 80% e por isso descansa à sexta feira. Logo começar férias a uma sexta tem algo de contraditório, mas é assim que acontece. Por terras de Moledo e Caminha, já se nota algum movimento, espera-se a chegada dos que foram morenar ao Algarve, acaba o sossego para alguns, começa a animação para outros, o sotaque lisboeta vai fazer-se ouvir com mais insistência, mas toda a gente se adapta até este vosso amigo e o COVID ajuda a manter a distância social, muito conveniente confesso!)

Praia e sol sem movimento nunca foi coisa que me entusiasmasse por aí além, sou sensível de ossos e a água destes sítios põe-me a tiritar, pelo que com tanta hesitação para entrar no mar o mais provável é que a maré se altere. Para ler o jornal ou qualquer outra coisa numa boa cadeira de realizador na praia o melhor é fazê-lo numa esplanada e ainda que passear na praia seja agradável, a verdade é que com a ecopista sobre o mar entre Moledo e Âncora e as ecopistas sobre o rio entre Seixas e Cerveira a revelarem-se convidativas é sempre mais sensato percorrê-las e assim proteger a coluna. Por isso, nestes anos mais recentes como idoso estatístico, a praia é fugidia e o nevoeiro ou o vento desabrido encarregam-se de fornecer a escusa pertinente.

Por isso, entrar em férias é para mim vogar na modorra, tentar quebrar o ritmo, ensaiar algum exercício mais regular (a glicémia agradece) por exemplo quatro a cinco quilómetros diários de marcha regular, algum ténis e sobretudo este prazer de tomar as refeições e prolongá-las com o Coura, o Minho e Caminha à vista e com o monte de Santa Tecla como companheiro de horizonte.

Mas mesmo com esta mudança de rotinas a verdade é que não consigo libertar-me do computador e dos e-mails.

Tempo por conseguinte que baste para refletir em coisas que ficaram expectantes e por explicar, como por exemplo encontrar uma explicação pelo menos verosímil da contradição que parece existir entre a excelência do ritmo de vacinação e o número de mortes acima do que seria legítimo admitir atendendo aos valores europeus. Temos de facto de tirar o chapéu aos números da vacinação ultrapassando todos os maus presságios que foram soprados de vários quadrantes, sobretudo dos que invocavam a nossa imperícia logística. Imperícia foi coisa que não existiu, o que combinou bem com uma elevadíssima propensão para não rejeitar a vacinação e isso fez a diferença de embora começando atrás Portugal apresentar hoje índices de vacinação superiores ao Reino Unido, Estados Unidos e até Israel. Ora é neste contexto que é difícil compreender os valores da mortalidade e tenho tido dificuldade em encontrar gente a pronunciar-se sobre este tema. Sei que ele é sensível do ponto de vista de evitar a todo o custo dúvidas no processo de vacinação, mas já se justificava alguma interpretação mais aprofundada dos dados da mortalidade.

Continuo a defender que foi pena o Governo não ter optado pela constituição de um painel científico multidisciplinar permanente em vez do modelo INFARMED e caberia a um painel com essas características ir informando fundamentada e credivelmente os portugueses. Com o modelo atual continuamos a ir a reboque do que vai sendo discutido por esse mundo fora, sobretudo o mais desenvolvido do ponto de vista científico e sanitário. É o caso da vacinação das crianças dos 12 aos 15 em que as autoridades sanitárias portuguesas demoraram tempo excessivo a tomar posição. Por exemplo, nos EUA já se discute a vacinação entre os 5 os 12 anos de idade, até porque tudo indica que dois meses é o período mais adequado para registo de quaisquer contrariedades ou efeitos adversos da vacinação nos grupos etários. Esse período é o que está a ser considerado pelas empresas produtoras das vacinas para registo das contraindicações.

Uma coisa é seguir este debate na imprensa, que se justifica e que tem toda a legitimidade para ser prosseguido segundo os critérios editoriais dos jornais e revistas. Mas outra coisa mais coerente e credível seria esse debate concretizar-se no âmbito desse painel multidisciplinar. Não é obviamente de unanimidades que precisamos, mas antes de um contexto regular e informado para avaliar as divergências que as há e a aplicação do custo-benefício a estas matérias tem que se lhe diga. Não me espanta que haja divergências entre quem quer e quem não quer vacinar crianças, até porque a vacinação não é obrigatória para ninguém. O que se quer é que sejam conhecidos os argumentos sólidos e aceitáveis de ambas as partes e isso num artigo de jornal ou de revista não é possível pois não há a confirmação de um painel com regras próprias e aceites por todos.

Mas apesar dessas dúvidas cada vez estou mais convicto de que muito boa gente se enganou quanto à antecipação do desgaste do governo na gestão da pandemia. Parece-me que a fraturada oposição está bem mais desgastada.

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