A “Sábado” e o “Expresso” publicaram há dias alguns elementos interessantes sobre o financiamento do partido “Chega”, ao que referia este último já tendo atingido um nível superior ao do maior partido nacional, o PS, em termos de contributos privados. Talvez se justifique reunir e divulgar aqui, do modo necessariamente insuficiente que a informação existente permite, os nomes e as caras dos doadores de maior expressão ou visibilidade.
Começando pelos titulares das quatro transferências mais significativas realizadas em 2020 para a conta do “Chega”, curiosamente empresários com caraterísticas algo semelhantes entre si (base no Centro-Sul do País, proprietários estabelecidos ou seus filhos-família detentores de grandes herdades e com ligações à agricultura extensiva, gosto por caça, cavalos e/ou touros, assim como carros e vela, interesses preferenciais no imobiliário ou em outros setores pouco concorrenciais e referências em paraísos fiscais, além de presença abundante em revistas cor-de-rosa entre outros aspetos): Artur Pedrosa (filho de Humberto Pedrosa, líder da Barraqueiro, e administrador da Rodo Cargo), José Paulo Santos Duarte (principal acionista da empresa de transportes Paulo Duarte), João Maria Casal Ribeiro Bravo (principal acionista da Sodarca — Sociedade Distribuidora de Armas de Caça, também fornecedor de armas, munições e equipamento militar às Forças Armadas e de Segurança, e ainda principal acionista da Helibravo, empresa detentora de uma frota de helicópteros para combate a incêndios e grande cliente público nestes contextos empresariais) e Jorge Moniz Maia Ortigão Costa (acionista da Sogepoc, titular da Sugal e da marca de tomate Guloso, dono de coudelaria e referenciado nos “Panama Papers”).
Depois, e recorrendo a investigações preliminares daqueles e outros órgãos (“Visão”, designadamente), mais personagens merecem saliência pelas suas colaborações de diversa continuidade com Ventura, a saber (vejam-se as figuras na segunda infografia abaixo): o estranho César do Paço (radicado no exterior e referenciado pela sua empresa Sumit Nutritionals, ex-cônsul honorário na Florida e muito bem caraterizado nas suas idiossincrasias e omissões, incluindo o roubo de um relógio, pelas excelentes reportagens de Pedro Coelho na “SIC”), Paulo Corte-Real Mirpuri (líder dos negócios da família, antes no quadro da misteriosamente falida Air Luxor e agora na HiFly e na respetiva fundação), Miguel Félix Costa (oriundo da família que liderou a multinacional de lubrificantes Castrol, detentor de negócios de hospitalidade em Portugal e Polónia, holding imobiliária de luxo Slil, sociedade agrícola de São Cristóvão e coudelaria em Montemor-o-Novo), Eduardo Amaral Neto (ligações à Chamusca e sociedade imobiliária e de consultoria Gavião Real), Salvador Posser de Andrade (administrador do grupo imobiliário Coporgest, após ter passado pela administração do imobiliário do ex-Grupo Espírito Santo), Francisco Cruz Martins (advogado e facilitador de negócios, administrador de imobiliárias detidas por uma empresa baseada em Chipre e também conhecido por ligações aos “Panama Papers”, a dossiês com Angola e aos casos Banif e Vale do Lobo, além de ser padrinho de casamento de Ventura), Francisco Sá Nogueira (gerente da área turística da Helibravo, vindo da vice-presidência da mesma área no ex-Grupo Espírito Santo), João Pedro Gomes (advogado e facilitador de negócios, com envolvimentos associativos relevantes em Portugal e no Brasil) e Carlos Barbot (o único do Norte, com dominância de negócios em setor concorrencial e, segundo o próprio, pouco mais do que um curioso de “espírito aberto” nestas coisas da política à extrema-direita).
E está feita a minha síntese. Deixo agora para os analistas e cultores das mais diversas especialidades os comentários e as explicações que possam considerar pertinentes em relação a uma matéria que julgo ser reveladora e de manifesto interesse geral.
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