domingo, 10 de julho de 2022

A TROMBA DO ELEFANTE FOI-SE …

                                                                         


(O economista sérvio-americano Branko Milanovic continua a proporcionar-nos evidência continuada sobre a distribuição do rendimento a nível mundial, isto é, como se todos os indivíduos do mundo não tivessem países de origem e fossem ordenados dos rendimentos mais baixos para os rendimentos mais altos independentemente da nacionalidade. A nova informação disponível, link aqui, sobre o período 2008-2018, integrando por isso o impacto da lenta agonia de recuperação após a Grande Recessão de 2008 e ainda sem os efeitos da pandemia, traz-nos a particularidade de fazer desaparecer uma das curvas mais icónicas dos últimos tempos, popularizada por Milanovic, a chamada curva Elefante.)

Pois, face aos dados de Milanovic, parece que a curva Elefante ficou sem tromba, deixando por isso de ser uma curva Elefante, pois este animal sem tromba perde identidade.

Assim, a nível mundial e por isso sem querer implicar qualquer conclusão sobre a desigualdade ao nível de cada país, o que os dados de 2008 a 2018 nos mostram é uma taxa de crescimento do rendimento per capita dos mais pobres mais elevada relativamente à taxa de crescimento dos mais ricos a nível mundial.

A curva a castanho do gráfico acima é inequívoca no seu comportamento, sugerindo que a nível mundial, o coeficiente de GINI dessa distribuição terá diminuído, mostrando uma vez mais que o estado da globalização não é indiferente ao estado da arte em matéria de desigualdade mundial. Porém, como o próprio MIlanovic nos alerta isso não significa que em termos de variação absoluta dos ganhos de rendimento per capita a situação dos mais ricos se tenha degradado relativamente à dos mais pobres. Isso quer apenas significar que os rendimentos dos mais ricos são tão elevados que, embora os seus ganhos percentuais sejam mais baixos, os seus ganhos absolutos continuam a superar os dos mais desfavorecidos (link aqui).

O gráfico acima é totalmente esclarecedor em termos de ganhos absolutos. Nas palavras do economista sérvio, os ganhos absolutos de rendimento continuam a ser favoráveis aos mais ricos, embora num contexto de convergência absoluta dos rendimentos per capita.

Como é óbvio e temos vindo a alertar em posts anteriores, uma distribuição mundial de rendimentos per capita supra-fronteiras não pode desligar-se da nacionalidade dos grupos de indivíduos pertencentes aos percentis mais beneficiados com as variações percentuais dos seus rendimentos para o período em causa, repito, que integra a recuperação agónica da Grande Recessão de 2008, ainda sem traduzir o impacto pandémico. Certamente que nesses percentis encontraríamos uma sobre-representação de chineses e residentes em países asiáticos, afinal o grupo de países que melhor lidou com a globalização, apesar de neste período o seu edifício começar a apresentar as primeiras fissuras.

Poderíamos apostar entre nós qual será o comportamento da curva na próxima década 2018-2028 integrando pandemia, disrupção da globalização e guerra da Ucrânia.

Será que a tromba do elefante vai reerguer-se?

Muito provavelmente sim, embora haja ainda anos em branco para se completar a dita década.

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