quarta-feira, 27 de julho de 2022

ATUALIZAÇÃO DO RANKING DE COMPLEXIDADE ECONÓMICA

Por uma razão ou por outra não demos aqui o devido realce aos relevantes trabalhos do “Growth Lab” da Universidade de Harvard em torno da questão da “complexidade económica” de produtos e países (aprofundados na esteira de trabalhos pioneiros de Ricardo Hausmann e César A. Hidalgo). Mas é sempre tempo de arrepiar caminho, o que faço hoje com recurso à recentíssima divulgação de novos rankings de países do Índice de Complexidade Econômica (ICE), o qual pretende sistematizar a diversidade e sofisticação das capacidades produtivas incorporadas nas exportações de cada país e é encarado como possuindo um significativo grau de capacidade explicativa dos diferenciais de nível de rendimento entre países.

 

Continuo convencido de que os rankings valem o que valem, i.e., que servem na melhor das hipóteses de meros indiciadores de factos e realidades não necessariamente simplificáveis por essa via. Ainda assim, constate-se que, como salientam os autores da recente atualização, a pandemia não terá trazido grandes mudanças na matéria (veja-se, abaixo, o ranking de 2020 para os vinte países melhor posicionados), com o Japão a continuar a emergir como o país mais complexo do mundo e a Suíça, a Alemanha, a Coreia do Sul e Singapura a seguirem-se-lhe na classificação, à frente da Suécia (8ª), do Reino Unido (10º), dos EUA (12º), da Itália (16ª) e da China (17ª), nomeadamente. Mas em termos evolutivos de médio prazo (considerando as duas décadas correspondentes ao presente século XXI) registam-se algumas variações de posição dignas de menção (veja-se o gráfico que abre este post), como acontece com os casos mais notáveis da Coreia do Sul (que passou da 20ª posição em 2000 para a 4ª em 2020), da Hungria (de 23ª a 9ª), da China (de 39ª a 17ª), da Roménia (de 36ª a 19ª) ou das Filipinas (de 65ª a 30ª), para além de alguns países em vias de desenvolvimento que deram igualmente importantes saltos no domínio da complexidade (os autores elegem como salientes as evidências, na última década, de Vietname, Camboja, Laos e Etiópia); em sentido contrário, temos como casos negativos a França (de 10ª a 18ª), os Países Baixos (de 19º a 28º), a Espanha (de 21ª a 33ª), os EUA (de 6º a 12º) ou o Reino Unido (de 4º a 10º), para não referenciar as situações de forte declínio de países em vias de desenvolvimento que viram crescer a sua alta dependência em commodities e/ou se mostraram impotentes para diversificar as suas exportações (os autores elegem como piores as evidências, na última década, do Botsuana, do Zimbabué, do Equador e de Cuba). De notar ainda, por estrita curiosidade lusitana, a relativa constância da posição portuguesa (33ª em 2000, 34ª em 2010 e 34ª em 2020), bem reveladora de uma apagada e vil tristeza no tocante aos caminhos do nosso perfil de especialização, não obstante a observância de um contraste pela positiva face a outras dinâmicas nacionais bem menos simpáticas.

 

Um tema que por ora deixo por aqui, mas um tema cuja significância justificará que oportunamente o revisite mais em detalhe e em vários planos.


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