Este defeso futebolístico foi até agora marcado, em Portugal, por uma enorme diferenciação de posicionamentos no que toca aos “três grandes”. O Benfica vendeu Darwin ao Liverpool e contratou o treinador alemão Roger Schmidt, tendo estado centrado em recompor significativamente a essência do seu plantel (com algumas contratações de peso) e, consequentemente, do seu estilo de jogo ― tudo indica que o ano lhe vai correr bem, ou até muito bem (e é ver o tempo desproporcionado e a alegria despropositada com que os comentadores de todos os órgãos de comunicação se entretêm a analisar tudo o que respeita ao clube da Luz, num sinal muito aparolado de quanto o Sport Lisboa e Benfica continua a ser o clube do regime, agora do regime do centralismo lisboeta). O Sporting vendeu o que pôde, como lhe competia (e ainda vai voltar a vender), mas teve o engenho de conseguir manter a estruturação básica do seu grupo de trabalho e sistema de jogo, ao mesmo tempo que conseguiu fazer algumas contratações promissoras (Hugo Viana parece ser o providencial “ideólogo” de toda esta moderada mas inteligente lógica). O FC Porto ainda se reservará para o resto da pré-temporada, tendo-se limitado a vender bem dois jovens da sua formação que tinham sido parte do sucesso da época passada e a comprar um excelente central (David Carmo) por preço elevado.
Até aqui tudo mais ou menos pacífico e previsível. Até que ontem se soube que Francisco Conceição, o jovem extremo e filho do treinador Sérgio, iria ser vendido ao Ajax por este ter exercido a cláusula de rescisão, uma cláusula de apenas 5 milhões e acionada sobre um atleta cujo salário envergonha qualquer um no respetivo contexto (o próprio perante os colegas e a administração da SAD perante as inevitáveis e descredibilizantes comparações a que assim ficou sujeita). Nestes termos, ou muito me engano ou temos nesta transação a chave indiciadora do que poderá vir a ser a prestação do atual campeão nacional na época que se avizinha: a partir de um plantel construído sem estratégia mas apenas sob o impulso do mercado (e suas aproximações compradoras), a equipa será necessariamente tímida porque pouco dotada de valores com ambição e que façam verdadeiramente a diferença (como foi o caso de Vitinha e Fábio Vieira, já que Chico Conceição acaba por não passar de um ativo esforçado mas relativamente pouco esclarecido e fisicamente débil); ou seja, estará recheada de jogadores relativamente instalados (Otávio, se não sair após a recentíssima revisão ascendente da sua opção de compra, os velhos Pepe e Marcano e o instável Taremi), sobretudo preocupados com o que o futuro lhes reservará em termos de mercado (Uribe, Evanilson, Pepê, João Mário, Diogo Costa), de classe duvidosa ou por provar (Zaidu, Wendell, Grujić, Bruno Costa, Eustáquio, Galeno, Toni Martínez) ou ainda não devidamente entrosados com os restantes e com as exigências do técnico (os que serão entretanto contratados, como André Almeida do Vitória de Guimarães ou Ricardo Horta do Braga, se for o caso, alguns jovens imaturos vindos da formação ou alguns brasileiros encomendados à pressa); com Sérgio Conceição em manifesta desativação, como não pode deixar de ser em face de todo este quadro, a época anuncia-se, pois, perigosamente em risco (ressalvando a sempre possível emergência de surpresas e/ou milagres), i.e. marcada pelo facto de as disputas principais ficarem preferencialmente localizadas nas redondezas da Segunda Circular.
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