A passagem por Paphos e Limassol, apesar de relativamente limitada em tempo, foi bastante proveitosa no sentido de uma boa perceção do potencial de áreas turísticas nacionalmente determinantes. No caminho, passei pelo belo castelo medieval de Kolossi (antigo reduto dos Cruzados) e correspondentes vinhedos (associados à Commandaria, um típico e famoso vinho doce de sobremesa), pelas escavações de Kourion (remontando ao século XX a.c. e incluindo o bem recuperado complexo de Eustolius e um magnífico anfiteatro com vistas espetaculares para a Baía de Episkopi) e pelo rochedo de Afrodite ou Petra Tou Romiou (que cruza a lenda da apresentação naquele local à comunidade dos deuses e uma outra associada à resistência do “homem grego”, Digenes, que transportou a pedra das Montanhas de Troodos para enfrentar a invasão dos muçulmanos). Em Paphos, é de destacar o contraste entre o seu moderno porto mediterrâneo e o seu grande e bem preservado parque arqueológico (incluindo casas, como a de Dioniso, com inúmeras salas pavimentadas com belíssimos frescos e mosaicos, e os impressionantes Tombs of the Kings). Por fim, em Limassol, a segunda cidade do país, destaque para um outro contraste, mais comezinho, entre as suas praias e excelentes cais e passeios ribeirinhos e uma fúria construtiva relativamente desordenada que alguns associam a uma presença marcante de oligarcas russos e outros relacionam preferencialmente com uma resposta turística à divisão da cidade onde se localiza a praia mais apreciada e frequentada do país (Famagusta, na parte leste da ilha). Um dia em cheio, portanto, culminado com um excelente jantar na marina de Limassol.
Mas volto ainda ao que por aqui mais impressiona quando se fala com alguém minimamente atento à situação político-social, a invasão turca de 1974 e os subsequentes 48 anos de indeterminação e instabilidade que se viveram desde então. Com as autoridades internacionais, leia-se sobretudo a ONU e a União Europeia, a assobiarem largamente para o lado quando defrontadas com a procura de uma solução efetiva para o problema. O lado da República, excessivamente enfeudado a vinculações e interesses gregos (cujo hino e bandeira imperam), não parece hesitar em asfixiar o lado turco, enquanto este resiste e faz por entregar crescentemente a Erdoğan os seus destinos. Assim, e com responsabilidades bem repartidas por todos os intervenientes, a situação apresenta-se como tendo condições perfeitas para acabar mal, ademais em momentos geopoliticamente complexos como o que atualmente nos envolve. Saio assim de Chipre com a sensação de que têm o seu ponto de razão os cidadãos conscientes que encaram a sua vida e a dos seus familiares como altamente precária em termos securitários, parecendo realmente concebível o inconcebível de uma jogada agressiva de Erdoğan com favorecimento russo que deixaria a União Europeia numa situação profundamente lamentável e até tendencialmente pré-moribunda. Queiram os deuses proteger os cipriotas e os europeus desse horrendo cenário!
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