sexta-feira, 15 de julho de 2022

UM GRÁFICO, SIMPLESMENTE …

                                                                                 

(Bem sabemos que a literacia de interpretação de gráficos em economia não é propriamente uma competência disseminada por aí, mesmo entre os estudantes de economia essa capacidade não está abundantemente distribuída. Por maioria de razão, na população em geral esses problemas de literacia interpretativa agudizam-se. Por isso, temos sido comedidos na sua utilização deste blogue, embora por vezes surjam exemplos irrecusáveis pelo alcance interpretativo que veiculam. É este o caso do tipo de gráficos utilizados para a comparação entre recessões e o tempo que demora a repor a atividade económica de novo num pico similar ao observado antes da sua ocorrência. Para aguçar o apetite trata-se de comparar as duas grandes recessões que tivemos de superar na história recente, a Grande Recessão de 2008 e a Grande Recessão pandémica. Este confronto pode não ser ideologicamente do agrado de muita gente. Mas o que dizer, é a vida e ignorar as evidências não é saudável.)

Algumas, poucas, notas para simplesmente situar o alcance do gráfico reproduzido, respeitante à economia americana.

Todas as recessões económicas, grandes, pequenas ou que passam despercebidas, acontecem depois de ser atingido um pico de atividade. Há várias maneiras de medir esse pico. Podemos utilizar o Produto Interno Bruto, mas podemos também recorrer a indicadores do mercado de trabalho, seja medindo o pico pelo emprego alcançado na economia ou pelo baixo valor do desemprego observado.

Assim, acontece com o gráfico que abre este post (link aqui).

Comparam-se as Grandes Recessões de 2007 e de 2020, situando no ponto zero do eixo dos XX o valor pico do mercado de trabalho observado antes do movimento recessivo ser iniciado.

Se medirmos o número de meses que a economia demorou a atingir de novo os dados de emprego observado nesses picos, temos uma ideia sugestiva da duração temporal que podemos associar à penosidade da recessão. Não há recessão sem penosidade e essa é diversificada e atingindo como sabemos não uniformemente as pessoas.

O que é que vemos no gráfico?

Vemos que a Grande Recessão de 2007-2008 se prolongou durante muito mais tempo, enquanto que a recessão pandémica teve uma queda abrupta nos três primeiros meses mas a economia tendeu a recuperar rapidamente, incomparavelmente de forma mais rápida do que a observa na Grande Recessão de 2007-2008.

Dir-me-ão que a recessões geradas por fatores diferentes poderemos associar durações temporais de penosidade diferenciadas. Sim, é verdade. Mas, meus caros, esse não é o Ponto. O que aconteceu é que a intervenção pública foi substancialmente distinta nos dois casos, tendo a Grande Recessão de 2007 sido uma grande fonte de aprendizagem que a Recessão pandémica não desperdiçou. No caso da Recessão de 2007, os Bancos centrais fizeram das tripas coração e inventaram diferentes incursões para a política monetária. Na Recessão pandémica, compreenderam-se as limitações desta última e a política fiscal (os estímulos) comandou o processo.

Evidências nuas e cruas que se sobrepõem a qualquer questãozinha de tom mais ou menos ideológico ou doutrinário.

E é esta imagem que vai ficar para a posteridade da história económica do tempo longo. Orgulho-me de ter vivido esta evidência e Bem Haja a quem o permitiu.

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