quinta-feira, 7 de julho de 2022

BATEU NO FUNDO?

(cartoon de Matt Pritchett, https://www.telegraph.co.uk)

BoJo continua na berlinda, agora e cada vez mais a braços com um exercício de resistência (ou devo aderir à moda de dizer resiliência?) absolutamente admirável face às crescentes pressões a que está sujeito por força de um leve modo de estar na política que o foi conduzindo a uma carreira aos tropeções, ou seja, manifestamente à deriva na medida em que guiada por objetivos estritos de poder (a alcançar, primeiro, e a preservar, depois) e por uma consequente e aflitiva ausência de princípios (há quem prefira falar, muito simplesmente, em mentira versus verdade). A sua viragem no sentido de uma defesa do Brexit terá sido o momento mais negativamente revelador daquilo ao que vinha Boris, marcando decisivamente todo o seu percurso subsequente ao comando dos destinos do país, sempre num crescendo de habilidades feitas de inépcias e futilidades de que as festas em Downing Street durante a pandemia não foram mais do que sintomas de um óbvio incumprimento de mínimos em matéria de sentido de Estado. A demissão de dois ministros nucleares (Sunak e Javid, que ocupavam as pastas das Finanças e da Saúde), ocorrida anteontem, e a vaga de novos abandonos que se lhe seguiu, apenas vieram tornar visível aos olhos do mundo quanto Boris já não existe politicamente, quaisquer que sejam os seus esforços no sentido de uma negação e vã obstaculização. Mas o mais triste de tudo ainda é a constatação do estado a que a sempre rigorosa e orgulhosa Grã-Bretanha conseguiu chegar!

(Tjeerd Royaards, https://www.trouw.nl)

(Ramses Morales Izquierdo, https://cartoonmovement.com)

(Peter Brookes, http://www.thetimes.co.uk)

(Maarten Wolterink, https://cartoonmovement.com)

 

Entretanto, e como não podia deixar de ser, o Labour já afia convictamente as suas facas na perspetiva de uma renovada disputa do poder. Embora o partido pareça longe de poder efetivamente constituir-se numa alternativa que lhe permita encarar seriamente tal desígnio, o seu líder Keir Starmer lá fez aquilo que se lhe impôs como sendo a sua parte ao aderir sem mais, tardiamente e no pior dos momentos, aos árduos caminhos abertos por um Brexit desastroso para a economia e a sociedade britânicas. Mesmo que alguns lhe louvem a oportunidade, por evidente impossibilidade de um regresso aos tempos europeus anteriores ao referendo de 2016 e à saída de 2021, o facto é que nem sempre aquilo que parece emergir como oportunidade corresponde ao sentir dos cidadãos e, sobretudo, à perceção que vai sendo assumida de que as dificuldades vão recrudescer e de que a culpa não deveria morrer solteira.



(Morten Morland, http://www.thetimes.co.uk) 

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