Já não acontecia há quase vinte anos! Mas o facto é que acabou de acontecer anteontem: a moeda europeia, na sequência de uma continuada tendência de queda, caiu para um valor de paridade face ao dólar americano.
Os motivos explicativos desta evolução são necessariamente múltiplos, embora (como referia Ricardo Reis na sua última coluna do “Expresso”) o BCE esteja de algum modo no centro de quase todas elas (excetuando a inescapabilidade dos efeitos decorrentes da estrutural dependência energética europeia revelada no atual e complexo contexto geopolítico e de guerra que envolve o Continente Europeu). Temos, desde logo, a disparidade entre as taxas de juro de referência da FED e do BCE (resultado de opções de política muito duvidosas por parte de Frankfurt), temos também a renovada emergência de fundadas dúvidas nos mercados quanto à sustentabilidade efetiva da Zona Euro (ainda há semanas aqui abordei a periclitância do caso italiano e o consequente risco de uma nova crise das dívidas soberanas), temos finalmente a questão decorrente de uma inflação em alta (“porque Lagarde, Centeno e companhia decidiram deixá-la subir”) em viciosa combinação com os traços mais essencialmente marcantes da estrutura económica europeia.
Haverá quem entenda que podemos estar perante uma fragilidade transformável em potencial benefício, chamando à colação o modo como a depreciação cambial pode favorecer a competitividade-preço das exportações dos países europeus ― um ponto que teria outra razão de ser não fora o enorme peso do mercado interno nessas trocas. Sendo assim, o facto que aqui é salientado tende preferencialmente a ser mais um elemento constitutivo da “tempestade” (perfeita?) que se está a formar em céus europeus; com obrigatório impacto sombrio nos destinos próximos das respetivas terras e gentes...
Sem comentários:
Enviar um comentário