domingo, 20 de novembro de 2022

CASA DA ARQUITETURA

(Um fim de tarde de domingo, em que apetecia ter guelras para conviver com a humidade, bem passado na Casa da Arquitetura, em Matosinhos sul, a festejar o seu quinto aniversário, mas sobretudo para assinalar as entregas dos acervos da Arquiteta Fernanda Seixas e do Arquiteto Manuel Correia Fernandes, proporcionando por essa via um acesso público mais orientado e competente a duas obras que vale a pena revisitar assiduamente. Duas obras que dizem muito das pessoas que a Fernanda era e que o Manuel ainda é, pois ainda temos o privilégio de contar com o seu trabalho, empenho cívico e permanente disponibilidade para a participação pública. E também para assinalar a inauguração na Casa do espaço dedicado à fotografia de Luís Ferreira Alves.)

A Fernanda Seixas e o Manuel Correia Fernandes são daquelas pessoas, e neste caso arquitetos, que não precisam de se colocarem em permanência em bicos de pés para se afirmarem e divulgarem a sua imagem. Curiosamente, tive maior proximidade profissional com a FS e maior proximidade cívica e até política com o MCF.

Da obra da FS tive oportunidade de ter conhecimento direto através da simbiose que ela estabelecia permanentemente de forma virtuosa entre a arquitetura que fazia e o planeamento urbano (cheguei a participar nos seus trabalhos em Oliveira do Bairro). E no caso da sua arquitetura, há exemplos pioneiros de antecipação dos temas da sustentabilidade nos seus projetos, muito antes do tema da sustentabilidade ambiental fazer a sua carreira e interessar outros arquitetos. A Fernanda começou a dominar bem cedo a dimensão bioclimática da arquitetura, num trabalho de excelente parceria com o núcleo de energia e ambiente da Faculdade de Engenharia do Porto, no seu departamento de Engenharia Mecânica, e introduziu-a nos seus projetos através de uma forte componente de estratégias passivas para um bom desempenho energético dos edifícios, de tratamento exemplar da exposição à luz, domínio dos materiais e outras formas de organização do espaço. Nunca esqueceu, entretanto, a sua valiosa experiência de participação na grande e bem-sucedida aventura do SAAL Norte, com a sua intervenção na Cruz de Pau em Matosinhos e por isso a sua sensibilidade à participação cívica e envolvimento de residentes e utentes.

Com o MCF os meus pontos de contacto não foram tanto profissionais, mas antes de debate político e cívico, seja discutindo a Cidade (o Manuel era um do entusiasta do tema das atmosferas urbanas que tanto me seduz), seja debatendo a participação cívica e política em inúmeras ocasiões públicas. Também o MCF teve o seu batismo de experiência de SAAL, creio que neste caso em S. Pedro da Cova.

A Casa da Arquitetura começa a revelar-se um projeto nacional e internacional de grande alcance e como o Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura hoje presente na cerimónia o evidenciou, ilustrando que o local dinâmico pode fazer muita coisa relevante no país. O José Manuel Fonseca, Presidente da Casa, cujo Diretor Executivo é o dinâmico Arquiteto Nuno Sampaio, continua a revelar a sua grande capacidade de estar à frente dos projetos certos e, neste momento, a Casa da Arquitetura começa a oferecer a Matosinhos uma enorme centralidade num recurso nacional diferenciador que é a Arquitetura, acolhendo acervos de gente distinta e muito variada.

Um fim de tarde é certo horrivelmente húmido e climaticamente desagradável, mas uma oportunidade de rever muitos amigos e de mostrarmos simplesmente que estamos e convergimos com aquelas duas personalidades, a Fernanda já desaparecida representada pelo seu filho, o Amigo Leonardo Costa de longa data, e o Manuel ainda a mostrar que podemos continuar a continuar a conta com a sua reflexão e talento. Certamente que um encontro público com a Luísa Salgueiro presidente da Câmara Municipal de Matosinhos e o Ministro da Cultura Pedro Adão e Silva, mas um daqueles encontros em que a única agenda presente era o de homenagear duas obras, dois exemplos e a qualidade e competência de uma Casa da Arquitetura para conservar, divulgar e enriquecer a interpretação das mesmas. E quando é assim, apesar da chuva a incomodar, sabe bem participar em encontros cuja agenda é cristalina.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário