quinta-feira, 17 de novembro de 2022

FRANCISCO LARANJO

 


(A elegante caneta preta que jaz sobre o meu estimável caderno da Paper Republic que me acompanha para todo o lado foi uma edição da Universidade do Porto e tem a assinatura do Francisco Laranjo, o pintor que nos deixou. É um simples artefacto, mas que representa bem a sua elegância e que nos faz recordar a beleza do seu abstracionismo que tantas vezes me cativou em exposições públicas ou privadas em quadros aos quais nunca tive acesso e que me obrigariam por certo a inventar casa para as contemplar à medida da evolução do ritmo do dia. Estas notas não são um obituário porque essencialmente não tinha nem contacto nem conhecimento suficientes acerca do Francisco Laranjo para me atrever a cumprir essa tarefa. O meu contacto mais próximo com o exponente da nossa pintura que nos deixou foi lá bem atrás no tempo e essa circunstância merece que a invoque …

Na altura da adesão ao euro e estando prestes a consumar-se a substituição do escudo pela moeda europeia, o Dr. João Oliveira então administrador do BPA convidou-me para assinar um texto relativo a essa mudança fundamental dos destinos do país. Mas a importância para mim desse convite consistiu essencialmente no facto dele vir acompanhado do funcionamento de um pequeno grupo de reflexão que integrava além do próprio Dr. João Oliveira, eu próprio e os artistas Francisco Laranjo, João Dixo, Albuquerque Mendes e Graça Morais.

Ao longo da minha heterodoxa vida profissional, em que a academia perdeu sempre talvez por má sina e com mau proveito para desafios dos mais variados e possíveis percursos, este foi dos mais desconcertantes e apetecíveis. Cruzar o olhar de um economista com a sensibilidade destes quatro grandes pintores num tema tão estranho como o adeus ao Escudo e boas-vindas ao Euro encheu-me na altura o ego, teve um enorme impacto na minha sensibilidade artística, constituindo um daqueles desvios de rota que permanece para sempre na nossa memória.

Foi através desses contactos para trabalhar o tema, em estilo totalmente livre e informal, que tive a oportunidade de conhecer a sensibilidade do Francisco Laranjo que reencontrei depois em algumas iniciativas cívicas umas vezes com o selo da UP, outras naquelas escapadelas políticas que nos são reservadas em momentos de maior tensão e conflitualidade políticas. Todos os testemunhos que tenho encontrado sobre a morte recente do Francisco Laranjo convergem para essa sensibilidade que encontrei a refletir sobre um tema tão obtuso como o do Adeus ao Escudo.

 

A fotografia que fui buscar ao post da Rosário Gamboa sobre o artista exemplifica bem as razões da tal convergência de testemunhos.

 

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