quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O MAIOR CHOQUE ENERGÉTICO EVER

Passei hoje os olhos sobre a versão preliminar do “Economic Outlook” da OCDE que levará a data deste novembro. E nela encontrei a mais chamativa evidência do “choque energético” em que o mundo está envolvido, no caso dos países da OCDE traduzida na percentagem do PIB atingida pelas suas despesas energéticas: uns 17% que já se aproximam, lidos numa perspetiva histórica de mais de cinquenta anos, do valor máximo alguma vez alcançado (aquando do designado “segundo choque petrolífero” de finais dos anos 70 do século passado). Aí fica, a quem possa interessar, a comprovação de um terceiro choque energético, que não apenas petrolífero, à escala mundial.

 

No mesmo documento, um outro gráfico é também bastante sintomático ao mostrar os riscos de quebras no fornecimento energético que poderão ocorrer na Europa durante os dois próximos Invernos. Vejam-se abaixo as projeções realizadas e o quanto a ultrapassagem do forte risco geral de shortage depende efetivamente de uma redução significativa na procura de gás (10% no caso) e/ou de os deuses não reservarem aos europeus situações de invernia demasiado drásticas (com implicações óbvias, como adiante se ilustram). Como dos desígnios destes ninguém consegue afiançar nada de muito concreto (embora as temperaturas muito negativas já comecem a fazer-se sentir), o melhor será mesmo que se logrem marcantes diminuições de consumo, o que parece previsível nos países mais rigidamente disciplinados (Alemanha à cabeça) mas está longe de estar adquirido em outros cujos cidadãos tendem a estrebuchar mais; enquanto isso, Ursula von der Leyen lá vai procurando impor algumas medidas pertinentes (sublinhe-se que os números no domínio das importações de gás já são bastante meritórios, como bem demonstra o gráfico mais abaixo) e desenvolvendo em simultâneo a doutrinação possível visando resultados que só na verdade iremos conhecer durante o jogo.


Uma nota final sobre o gráfico que encerra este post e que avança uma avaliação feita por Martin Sandbu relativamente à identificação dos principais países vencedores e perdedores do choque energético em curso.


(Rodolphe Urbs, https://journal.lemonde.fr)

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