Entre tantos outros e trágicos efeitos, a guerra da Ucrânia também nos trouxe uma perceção cada vez mais clara de que o tão elogiado modelo económico alemão tinha, afinal, vários pés de barro. Foi, desde logo, a chamada a primeiro plano da brutal dependência energética do país relativamente à Rússia (designadamente por via de um acesso barato e sem restrições ao seu gás). Depois, foi o disparar da inflação para níveis inéditos desde a Segunda Guerra Mundial, fazendo com que as projeções económicas para o próximo ano apontem para uma preocupante recessão (-0,6% de crescimento em 2023, segundo as recentes Previsões de Outono da Comissão Europeia) de um motor europeu que inesperadamente deixou de funcionar (atente-se na impressionante e inédita a configuração do acima reproduzido mapa europeu do crescimento no próximo ano).
Perante este cenário, o chanceler Olaf Scholz e o seu governo de coligação (que permanecem uma relativa incógnita em termos de rumo estratégico, até porque são marcantes e indisfarçáveis as suas dissensões internas em múltiplas áreas) não se fizeram rogados e prepararam e aprovaram um pacote de ajudas a famílias e empresas (note-se que é de significativo pânico a situação empresarial em presença, cada vez mais confrontada com os fantasmas da desindustrialização e da deslocalização) no montante de 200 mil milhões de euros que provocou uma óbvia ira antinacionalista por parte dos principais parceiros europeus, obrigando os alemães a algum recuo e/ou disfarce. Não obstante, Scholz não se deixou abater pelas críticas dos seus pares e logo se decidiu a responder positivamente às fortes pressões de uma franja significativa da classe empresarial alemã no sentido do continuado favorecimento de um business first, encabeçando (de novo ao arrepio da União Europeia e das suas orientações geopolíticas e em favor dos direitos humanos) uma enorme missão empresarial à China (uma indispensável cliente de produtos industriais alemães e uma imprescindível fornecedora de matérias-primas).
Toda uma tradição que já não é o que era, nuns casos, nem também o que parecia ser, noutros. Definitivamente, tempos novos e tão desafiantes quanto ameaçadores...
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