quarta-feira, 2 de novembro de 2022

PUDERA!

Estamos em pleno momento “Web Summit”, uma dessas realizações típicas de um país que vive sentado em cima de um passado imperial (aliás cheio de ineficiências), que quer mas não pode e que insiste em parecer poder por via de uma fingida subida da parada (desta vez a tecnológica, necessariamente comprada a bom preço). O evento beneficia de um acordo estabelecido em 2018, mediante o qual é garantida pela CIL (Connected Intelligence Limited) de Paddy Cosgrave a sua organização em Lisboa durante dez anos com a contrapartida de investimentos anuais de 11 milhões de euros (sendo 3 municipais e 8 governamentais, através de entidades tuteladas pelo Ministério da Economia, com destaque para o Turismo de Portugal, o AICEP e o IAPMEI), ao que sempre acrescerão mais responsabilidades a serem nacionalmente assumidas (aluguer da FIL, festival gastronómico, Wi-Fi, equipamentos de palco, várias receções e a campanha promocional, entre outras) num total que Cosgrave um belo dia estimou em 24,5 milhões a serem suportados pelo Estado. E há também a não esquecer os custos extraordinários que em cada ano não podem deixar de se ir impondo, como os do ano corrente com relação a obras de expansão do recinto que, alegadamente por não estarem ainda implementadas, já levaram a Câmara de Lisboa a atribuir 6,3 milhões de euros à edição do ano em curso. Em suma, eu ainda gostava que alguém sério consagrasse um tempo a avaliar com cuidado e competência o retorno desta iniciativa em termos de imagem de marca e de divulgação do País, um retorno que começou por ser declarado como rondando um valor de 300 milhões (apesar dos 105 milhões a que chegava um estudo dedicado da Universidade do Minho) mas que é atualmente encarado mais modestamente em torno dos 50 a 100 milhões (deixo o cálculo de eventuais taxas ao leitor, muito naquela linha do “é só fazer as contas” com que António Guterres uma vez nos brindou). Não duvido que o evento obviamente contenha vários tipos de realizações meritórias ― que não as inenarráveis passagens e passeatas políticas a que temos assistido ao longo dos anos! ―, mas certamente que a sua consideração em sede de política pública não irá ao ponto de resistir a uma boa análise custo-benefício. Daí que Cosgrave se prepare para por cá ir continuando, circunstancialmente deixando cair alguns elogios a propósito de assim adoçar os pouco exigentes beiços dos nossos governantes.

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