É objetivamente normal mas subjetivamente desesperante a sucessão de desaparecimentos ou manifestações de doença que de modo crescentemente cíclico se vai abatendo sobre nós (uso o plural majestático para significar toda uma geração que se vai tornando a mais envelhecida). Não há grandes consolos possíveis ou imagináveis quando vamos conhecendo ou experienciando situações dramáticas ou tendencialmente dramáticas a afetarem familiares, amigos, colegas ou simples conhecidos (e só em outubro foram múltiplos os casos...); é “a lei da vida” a que ninguém escapa, dirão os mais positivos ou realistas, uma lei inexorável que devemos procurar ir contornando serenamente enquanto o limite parecer longínquo ou arrastável. Porque, e a verdade também é essa, a criação de condições de vida e saúde conducentes a um significativo prolongamento vital (fenómeno a que vamos assistindo à escala global, com especial incidência nos países desenvolvidos e, consequentemente, a nível nacional ― após evoluções muitíssimo marcantes e relativamente rápidas, a nossa esperança de vida à nascença situa-se atualmente em 80,72 anos, sendo de 77,67 para os homens e de 83,37 para as mulheres) não deixa de vir acompanhada por enganosas esperanças de vida dos estatisticamente idosos (19,35 anos para o total dos cidadãos portugueses com 65 anos, sendo de 17,38 para os homens e de 20,80 para as mulheres) em virtude de tais esperanças de vida surgirem fortemente limitadas pelas deficientes e constrangedoras capacidades sobrantes em termos físicos e/ou intelectuais para que o cidadão possa levar uma vida de essencial normalidade ou disso próximo (a expectativa de vida saudável aos 65 anos anda em torno dos 7,3 anos em Portugal, um valor que fica ainda 3 anos abaixo da que se observa na média europeia). O que vale por dizer quanto as questões da geriatria ainda carecem de muita intensidade em ciência e de uma balanceada dose de aprofundamento, sempre na procura de compatibilizar uma desejável extensão das fronteiras do saber com a necessidade de evitar que fantásticas e inequívocas conquistas humanitárias não venham a desembocar em tragédias pessoais e sociais difíceis de suportar e enfrentar.
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