Marcelo prossegue a sua missão ao serviço do seu próprio eu. Por vezes de forma canhestra e até pessoal e democraticamente indelicada (digamos assim para dizermos o mínimo). Ontem, na Trofa, atirou-se à ministra da Coesão Territorial de um modo inqualificável e incompetente. Assim: “E, como não tenho tido oportunidade de o dizer, digo-lhe hoje. Quando aceitamos funções políticas, sabemos que é para o bem e para o mal. Não somos obrigados a aceitar. Sabemos que são difíceis, são árduas, que estão sujeitas a um controlo e a um escrutínio crescente – a democracia é isso – e há dias bons e dias maus, dias felizes e dias infelizes. A proporção é dois dias felizes por dez dias infelizes.” E ainda: “Este é um dia superfeliz, mas há dias superinfelizes. E verdadeiramente superinfeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que eu acho que deve ser. Nesse caso não lhe perdoo. Espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar.” Feita a maldade, com que tanto se deleita, Marcelo informou-se (ou foi informado, tanto dá) e lá tentou corrigir o tiro, fingindo estar a ironizar, declarando que o destinatário era o Governo, explicando que o dinheiro do PRR é muito e essencial ao País. Ana Abrunhosa, por seu lado, evidenciou ter um aparelho digestivo a funcionar em pleno, comportando-se como ocorreria com uma política experiente, mostrando-se governamentalmente solidária com as preocupações do Presidente e evitando entrar em qualquer tipo de confrontação (sendo que até nem é ela a ministra que tem responsabilidades na execução do PRR). E acabou por caber a Carlos César uma reação crítica (embora geograficamente mais longínqua) em relação ao miserável despropósito de Marcelo (foi ele quem esteve num dia infeliz, terá sublinhado). Uma situação embaraçosa para todos quantos ainda valorizam a presença de mínimos de lógica e civilidade no funcionamento da democracia portuguesa.
domingo, 6 de novembro de 2022
INACREDITÁVEL E INACEITÁVEL
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