terça-feira, 22 de novembro de 2022

PABLO MILANÉS

(Agustin Sciammarella, http://elpais.com) 

A recém-anunciada morte, em Madrid e aos 79 anos, do cantor e guitarrista cubano Pablo Milanés traz consigo, tal como pessoalmente a sinto, dois tipos de memórias especiais: uma visita a Cuba, onde a sua música (e de vários dos seus companheiros de percurso, como Silvio Rodriguez por exemplo) pontuava um pouco por toda a parte e dava uma cor especial a qualquer das nossas incursões de rua, restaurante ou diversão; uma inesquecível noite num bar de Curitiba onde se cantavam hits latino-americanos ao som de um violão muito bem tocado e na qual a “Yolanda” de MIlanés (que data de 1982, integrando o álbum “Yo me quedo”) se tornou uma composição-estrela.

 

Como se lê no “El País”: “Por muito que tenha cantado temas políticos e sociais de enorme transcendência, a memória de Milanés viverá para sempre ligada a esta página eterna, a mãe de todas as canções de amor”. Uma canção de amor ― não sei se a mãe de todas, mas seguramente uma das grandes referências à escola global do amor cantado em línguas latinas ― que as curvas da minha vida nunca recusaram em variados momentos e contextos e que assim reza:

Esto no puede ser no más que una canción / quisiera fuera una declaración de amor / Romántica, sin reparar en forma tales / que pongan freno a lo que siento ahora a raudales / Te amo, te amo, eternamente te amo.

Si me faltaras no voy a morirme / si he de morir quiero que sea contigo. / Mi soledad se siente acompañada / por eso a veces sé que necesito / tu mano, tu mano, eternamente tu mano.

Cuando te vi sabía que era cierto / este temor de hallarme descubierto. / Tú me desnudas con siete razones / me abres el pecho siempre que me colmas / de amores, de amores, eternamente de amores.

Si alguna vez me siento derrotado / renuncio a ver el sol cada mañana. / Rezando el credo que me has enseñado / miro tu cara y digo en la ventana: / Yolanda, Yolanda, eternamente Yolanda. / Yolanda, eternamente Yolanda.

 

Ou, na versão portuguesa, naquela que foi uma adaptação de Chico Buarque, também interpretada magistralmente por ele (como por tantos outros e outras de entre os maiores do Brasil):

 

Esta canção não é mais que mais uma canção / quem dera fosse uma declaração de amor. / Romântica, sem procurar a justa forma / do que me vem de forma assim tão caudalosa.

Te amo, te amo / eternamente te amo.

Se me faltares, nem por isso eu morro / se é pra morrer, quero morrer contigo. / Minha solidão se sente acompanhada / por isso às vezes sei que necessito.

Teu colo, teu colo / eternamente teu colo.

Quando te vi, eu bem que estava certo / de que me sentiria descoberto. / A minha pele vais despindo aos poucos / me abres o peito quando me acumulas.

De amores, de amores / eternamente de amores.

Se alguma vez me sinto derrotado / eu abro mão do sol de cada dia. / Rezando o credo que tu me ensinaste / olho teu rosto e digo à ventania: / Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda.

 

Como acontece com os que por cá andaram com rumo, Milanés partiu mas o seu legado de sensibilidade e talento permanecerão por aí, numa obra com que nos depararemos ao virar de cada esquina e sempre podendo contribuir para fazer do mundo um lugar mais belo.

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