Um interessante trabalho desenvolvido por Uri Dadush no quadro da “Bruegel” (“Deglobalisation and protectionism”) traz-nos alguns insights importantes numa matéria que está na ordem do dia à escala internacional: a do recuo da globalização que alguns dados estatísticos evidenciam e várias vozes proclamam (afirmando mesmo estar em curso um processo de desglobalização) e a do papel alegadamente dominante de lógicas protecionistas nessa tendência de recuo.
Ora, e por um lado, o autor mostra que ainda não estamos defrontados com uma tendência de evolução do comércio mundial que verdadeiramente inverta o sentido último da globalização ― de facto, e apesar de o crescimento do comércio mundial já não ser tão rápido quanto durante o período extraordinário de “hiperglobalização” ocorrido entre 1985 a 2007, “a maioria dos países ainda vê o seu comércio crescer em linha com o PIB ou mais rápido” e “a maioria dos países estão a tornar-se cada vez mais integrados na economia mundial, não apenas através do comércio de mercadorias mas também através de serviços, de movimentos de pessoas e da internet”. Por outro lado, os exemplos flagrantes de práticas protecionistas a que o autor alude também são por ele considerados como demonstradamente irrelevantes em relação a uma significativa e prevalecente persistência do comércio livre à escala global.
Dito isto, sempre importará sublinhar um elemento essencial de análise, a saber, o da excecionalidade da China em muitas das observações em causa: no que toca à lógica do seu crescimento, e à medida que o seu nível de rendimento progride, a economia do país tem vindo a transformar gradualmente o seu perfil export-driven no sentido de uma tónica impulsionada pela procura interna; no que toca ao seu recurso a mecanismos protecionistas, a evolução crescente da subsidiação por parte das autoridades chinesas é manifesta e está em contracorrente relativamente ao que vai ocorrendo, com diferenças de grau e temporalidade, nos restantes grandes competidores globais. Sinais da presença de componentes de mudança capazes de concorrerem para a irrupção da nova ordem que Xi ambiciona?
Sem comentários:
Enviar um comentário