sábado, 5 de novembro de 2022

IMPRESSIONANTE!

 


(Não tinha ainda visualizado a polarização espacial dos resultados das eleições brasileiras do passado domingo. Apercebera-me que ela existia, mas não tinha apreendido todas as suas nuances e significado. O mapa que o Economist publicou é construído com base nos resultados por município e por isso proporciona uma leitura imbatível quanto ao significado da polarização. É como se a dimensão espacial mais profunda do subdesenvolvimento brasileiro, historicamente desde os tempos da presença portuguesa se manifestasse neste mapa, gerando um país fraturado, meio por meio.)

Quando escrevo não é ainda totalmente claro qual vai ser a exata dimensão do calvário de Lula da Silva até à tomada de posse, que se prolongará depois por uma governação que enfrentará uma base parlamentar adversa. A não ser que a nebulosa base de apoio partidário de Bolsonaro se dissipe por dissidências internas e programáticas, designadamente do ponto de vista do extremismo admissível, o bolsonarismo com ou sem ele próprio assentou arraiais pelo menos até à emergência de um outro candidato instrumental para federar os interesses económicos e religiosos que o elegeram no passado e que tentaram a sua reeleição nas eleições de domingo.

O compasso de espera que o candidato derrotado se deu a ele próprio antes de se manifestar publicamente foi seguramente passado ao telefone a medir o pulso à situação e aos “donos daquilo tudo”. As urnas eletrónicas, com uma rapidez impressionante de publicação de resultados para um país com a dimensão gigantesca do Brasil, foi o melhor que aconteceu à transição. Não deu tempo para a construção nas redes sociais de uma narrativa de fraude ou de cabalas inclassificáveis. E o que me parece que terá acontecido é que com os resultados obtidos pelo bolsonarismo em alguns estados e nas principais câmaras políticas do país as forças políticas que convergiram na figura de Bolsonaro entenderam que uma transição violenta ou golpista constituiria um risco desnecessário face às condições objetivas concretas em que a governação de Lula vai acontecer. Isto não significa que grupos mais fanáticos e desesperados não possam aqui e ali pautar a sua resposta pela violência e pelo caos.

Tudo indica que o calvário até à tomada de posse não terá confronto possível com o que estará associado à futura governação.

Pactar, concertar, negociar serão verbos que Lula e o seu governo irão ter de conjugar na máxima perfeição. E uma grande interrogação emerge a partir dessa cenarização mais do que provável: quantos desses pactos, concertações ou negociações alinharão por contornos mais obscuros do ponto de vista das contrapartidas que implicarão? O que não será coisa fácil com Lula da Silva a ter de mostrar que o passado clientelar do PT não se repetirá.

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