Miguel Alves (MA) é o caso mais recente no seio do Governo Costa. E, ao que tudo indica, aquele que, de entre todos os que têm vindo a emergir como cogumelos, se revela como de gravidade política mais indiscutível. Não tanto, como é óbvio, pelos valores envolvidos (300 mil euros) nem pelo aproveitamento pessoal que poderá estar em causa (ainda por demonstrar, pelo que prevalece a presunção de inocência), mas sim pelo despudorado abuso na utilização de dinheiros públicos a que o ex-Presidente da Câmara de Caminha terá decidido prestar-se.
A situação é em si profundamente lamentável, mas pior do que tudo foi o ensurdecedor silêncio com que recebeu as notícias que sobre si vieram a lume, nada vindo explicar e assim patenteando uma profunda arrogância democrática a coberto do manto protetor da confiança publicamente declarada pelo primeiro-ministro. Do pior ao péssimo foi o que sucedeu ontem, dia de uma entrevista finalmente concedida à comunicação social e em que não apenas veio vitimizar-se de modo absolutamente impróprio e até ridículo (dizendo-se visado em especial por ser do Alto Minho e por desempenhar funções muito próximas de António Costa) como sustentar, demagogicamente e sem qualquer razão de ser objetivamente contraditória, a justiça de se construírem determinadas infraestruturas numa Caminha que também de tal tem de ser merecedora (o problema foi exatamente o contrário, i.e., o seu financiamento sem a devida construção e correspondente criação de condições), além de atirar poeira para os olhos de quem o ouvia ao escudar-se numa escusada carta à PGR para não ter dado qualquer sinal explicativo em devido tempo (mas o que tem o cu a ver com as calças?). Ao mesmo tempo, veio a saber-se que o homem já é arguido judicial em dois processos, matéria que o Costa de outros tempos considerava fundamento bastante para excluir alguém de listas de deputados ou do governo (quem não se lembra dos três secretários de Estado demitidos por causa de uma viagem futebolística a convite da GALP?).
Resta-me concluir com uma consideração que não tem sido suficientemente relevada nas análises relativas a Miguel Alves: este foi o membro do aparelho do PS que Costa preparou cuidadosamente para o servir, primeiro enquanto membro do seu gabinete (2006/2009), depois enquanto autarca (2013) e depois, ainda, enquanto um manifestamente incompetente (sei bem do que falo!) presidente do Conselho Regional do Norte para que o indicou sem quaisquer preocupações do foro curricular quando pretendeu assegurar-se um maior acompanhamento e controlo partidário das lutas e dinâmicas regionais a Norte ― ou seja, MA não é um mero apparatchik do PS, mas um estrito servidor do seu pai político e senhor absoluto que dá pelo nome de António Costa. Um motivo mais para esperar deste outro rigor e outra decência ― como, aliás, lhe sugeriram ontem os seus ex-colegas da “Quadratura do Círculo” (agora “O Princípio da Incerteza”, que também inclui a socialista Alexandra Leitão) ― no tratamento de um tema tão melindroso e revelador como é o que está em causa.
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