segunda-feira, 14 de novembro de 2022

KHERSON: MARCO OU MISTÉRIO?

 


(Já há muito tempo que perdi as esperanças de compreender plenamente o que se passa por terras da Ucrânia, na sequência da agudização do conflito e da aparentemente errática estratégia militar do agressor. A informação que nos chega, por mais bem recomendada que se apresente, tem sempre elementos de exterioridade para um Europeu longínquo como eu e não são seguramente os papagaios militares que pululam nas nossas televisões que nos ajudarão nessa tarefa. O problema não está em reconhecer que Putin se meteu por caminhos que não soube antecipar. A questão relevante está na dificuldade de compreender que probabilidades existem do conflito caminhar para uma resolução, já que tudo desemboca no tempo da indeterminação que pesará sobre o mundo e a União Europeia em particular. E assim chegamos à tomada de Kherson, marcou ou mistério?

A retirada russa de Kherson na sequência da contra-ofensiva ucraniana e a entrada triunfal das tropas ucranianas na cidade mais próxima da Crimeia ocupada, com direito inclusivamente a visita triunfal e simbólica de Zelensky, é dos eventos mais desconcertantes da guerra em curso. Os papagaios militares divergiram na interpretação do que efetivamente sucedeu. A retirada russa para a margem esquerda do Dniepre, concedendo a margem direita às tropas ucranianas, foi interpretada quer como um erro estratégico de grandes proporções, quer como jogada geoestratégica brilhante de reconcentração de forças. Olhando para o mapa e identificando a posição da Crimeia, diria que a jogada russa é defensiva, antecipando o que poderia ser interpretado como uma ameaça à Crimeia e uma tomada possível desta última pelos Ucranianos marcaria essa sim um rombo irrecuperável na geoestratégia russa. Mas, olhando também para o mapa, a passagem para a margem esquerda do Dniepre pode ser alternativamente entendida como um reordenamento para a retaliação, já que a ocupação ucraniana da margem direita torna-a bastante exposta à artilharia russa.

Por isso, considero que a tomada de Kherson tanto pode representar um marco de viragem na guerra, quer como um mistério tático russo que ainda ninguém terá compreendido. Isto já para não introduzir aqui maior complexidade, colocando a interrogação de saber se ambas as partes não estarão já a preparar terreno para uma eventual negociação.

Esta questão é relevante pois para efeitos da complexidade da crise mundial gerada pela invasão russa quanto mais indeterminado estiver o fim do conflito pior a ameaça.

Entretanto, à medida que o conflito se prolonga, mais oportunidades se abrem para que a Rússia busque, junto de economias que não alinharam com a posição ocidental relativamente à invasão, alternativas de fornecimento tecnológico. O período de regressão tecnológica a que a economia russa tem estado submetida começa a ser insuportável e obviamente que se abate também sobre a capacidade de renovação do equipamento militar durante atingido pelos ucranianos.

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