sábado, 25 de março de 2023

ATUALIZAÇÃO E RECONFIRMAÇÃO

(Construção própria a partir de https://ec.europa.eu/eurostat) 

Acaba de acontecer a divulgação pelo Eurostat dos dados do PIB per capita à paridade de poder de compra relativos a 2022. Na realidade, nada de muito novo em relação ao conhecido e que aqui temos vindo a explicitar de múltiplas formas e feitios, só existindo hoje em Portugal uma pequena franja de fanáticos governamentais capazes de encontrar imaginação para desmentir o essencial: Portugal está hoje a 77,3% da média da União Europeia e ocupa a 6ª posição (ex-aequo com a Roménia) a contar do fim na tabela classificativa respetiva quando no início do século estava a 85,3% dessa mesma média e ocupava a 13ª posição a contar do fim (que o mesmo é dizer, a 15ª posição no concerto dos 27 Estados membros). Neste período de mais de duas décadas, o nosso país foi assim ultrapassado na dita hierarquização por sete países (Malta, Eslovénia, Chéquia, Lituânia, Estónia, Polónia e Hungria) e igualado pela Roménia, só restando abaixo de nós a Bulgária, a Eslováquia, a Croácia e a Letónia (todos em forte ganho de posição relativa, ao contrário do que ocorre connosco) e tendo a desgraça grega conduzido à excecionalidade de a sua realidade ter passado a ficar inferiormente posicionada relativamente à portuguesa (o que não ocorria em 2000). É preciso dizer mais o quê para reafirmar que temos realmente um problema de crescimento económico?

 

Para os leitores que possam gostar de um “boneco” um pouco mais sofisticado, o gráfico seguinte irá nesse sentido e acrescentará algo mais face ao acima salientado. Nele se consideram, numa divisão por quadrantes, quatro grandes grupos de países em função do estado atual do seu produto por habitante (acima ou abaixo da média europeia), por um lado, e da respetiva evolução desde o início do século (de sinal positivo ou negativo), por outro. Algumas notas curiosas emergem: (i) com duplo sinal negativo (i.e., PIBpc abaixo da média e evolução temporal negativa), surgem as cinco economias da Europa do Sul (onde a referida desgraça grega foi bem acompanhada pela italiana, própria do perigosamente verdadeiro sick man of Europe); (ii) com duplo sinal positivo, quatro casos de algum modo negligenciáveis devido às suas especificidades (embora com a afirmação irlandesa e a evolução de Malta a sobressaírem); (iii) com PIBpc abaixo da média e fortes ganhos de evolução, onze países da Europa Central e Oriental em evidentes processos (nacionalmente diferenciados, apesar de tudo) de catching-up; (iv) com PIBpc acima da média e pequenas perdas temporais, sete países centrais (da pior performance da França à Alemanha e seus “satélites” e aos dois nórdicos em aproximação à NATO).


Esta leitura, para além das suas limitações (porque algo mais estatisticamente do que economicamente determinadas), vai por completo ao encontro da que tem vindo a ser quase oficialmente consagrada pela burocracia tecnocrática de Bruxelas ― que também faz coisas analiticamente muito boas, diga-se de passagem ―, designadamente no que toca à chamada “armadilha do rendimento médio” e ao automatismo prevalecente nos processos de convergência a Leste, matérias que careceriam a meu ver de estudos mais aprofundados e de interpretações mais solidamente fundamentadas. Mas o que os números revelam não pode ser escamoteado, quer no tocante ao relativo sucesso que tem vindo a ser obtido pela componente das políticas de coesão dirigidas aos países mais pobres quer quanto ao facto indesmentível de que existe um problema a Sul da Europa ― sendo que esse problema terá certamente razões de fundo comuns às várias nações em causa e também outras mais associadas à circunstância histórico-cultural e sócioeconómical de cada uma delas; no que nos diz respeito, porque não deixarmos a chicana política do mero confronto de números e passarmos a debater com seriedade os obstáculos que nos impedem?


(Construção própria a partir de https://ec.europa.eu/eurostat)

Sem comentários:

Enviar um comentário