quinta-feira, 23 de março de 2023

HÁ DIAS MUITO BONS

O dia nasceu pujante e solheiro, quase querendo festejar a recente entrada da Primavera. Dediquei o início da manhã a algumas obrigações e a um telefonema melindroso (que correu pelo melhor) e decidi oferecer-me uma agradável hora de caminhada sem destino. Parti, de seguida, para um almoço interessante e algo conspirativo num local consagrado da Cidade, o Clube Portuense; a sala de jantar estava a abarrotar de convivas focados no prato forte de uma excelentíssima lampreia à bordalesa. Subi à Praça dos Leões e celebrei com a comunidade académica do Porto o 112º aniversário da Universidade ― a oração de sapiência coube ao Prof. António Sampaio da Nóvoa, num texto intelectualmente notável em que se defendia que as universidades vivem no tempo longo, que o seu segredo resulta de identidade e diferença, que é decisiva a presença forte das Humanidades para não se cair na armadilha dos “instruídos incultos”, que importa resistir ao mantra do publish or perish, que ainda vivemos em incumprimento dos mínimos constitucionais de autonomia e finalmente que “temos sorte” porque as universidades são “o melhor lugar do mundo”, o “lugar da liberdade livre”. Terminada a sessão, corri para a Casa da Música, onde tive uma útil reunião de trabalho e me cruzei com inúmeros amigos e velhos conhecidos que acabavam a jornada como eu, ouvindo um concerto sublime do pianista russo Grigory Sokolov cuja base era Purcell e Mozart mas iria ser abundantemente acrescentada em seis merecidos encores. Sintetizo: terão certamente faltado alguns detalhes para que o dia fosse perfeito, mas o facto é que este andou lá muito perto.

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