(A situação política em Espanha está num frenesim galopante. As eleições municipais e algumas autonómicas estão aí à porta e as eleições gerais perfilam-se com clareza já no horizonte, dando de barato que o governo do PSOE e PODEMOS se aguenta até ao fim da legislatura. Hoje é dia de Ópera bufa no Parlamento espanhol, com a discussão e votação da moção dos ultras do VOX contra o governo de Sánchez, mas é muito mais do que isso. A moção de Abascal lança o nome do Professor de Economia Ramón Tamames como candidato a uma alternativa de governo. Tamames autor de um manual sobre a economia espanhola que todos conhecemos e associado ao Partido Comunista espanhol tem assim aos 90 anos uma espécie de epifania regressiva, aderindo a uma companhia contranatura para combater o governo de Sánchez e o regimento do Congresso de Deputados permite-lhe uma intervenção ao abrigo da moção de Abascal, que constituirá o zénite de todo este rocambolesco frenesim. Não esperaria com menos 17 anos do que Tamames assistir a tal desvario. A moção será certamente derrotada, mas o objetivo de Abascal era tão só o de encostar o PP de Feijoo às cordas, PP que vai abster-se na votação, passando o seu líder o dia de hoje numa reunião à porta fechada na Embaixada da Suécia, a discutir sabe-se lá o quê.
O jornal digital El Español que não morre de amores, sabemos, pelo governo de Sánchez e que sempre se opôs aos desvarios do VOX, reproduz hoje um artigo do jornalista Carlos Alsina (1) autor de um programa na popular rádio Onda Cero, de que recomendo a leitura e do qual cito apenas os dois primeiros parágrafos:
“Na véspera do naufrágio deste Tamames matrioska que tem dentro todo o Vox. A carcaça é Tamames. No interior está Abascal, Espinosa, Buxadé, ideólogos desta inenarrável bufonaria. Amanhã será a derrota, o automóvel de regresso a casa e por aqui ficaram os seus minutos de glória, Dom Ramón. Hoje é a farsa. A fraude. A impostura. O engano. Tamames deve ir neste momento a caminho do anfiteatro. A interpretar o papel de um candidato à Presidência que não é candidato nem é nada. A colocar o Parlamento uma perspetiva sobre o estado do país que é uma sucessão de opiniões similares sobre assuntos diversos. Sem linha de argumentação. Sem projeto. Não é um projeto de investir um novo Presidente. É um enredo. (…)“
O que leva um velho e prestigiado Professor de Economia, de filiação comunista, a este toque de finados na sua carreira política, prestando-se a este serviço de branqueamento da ultra-direita espanhola, que certamente nunca o indicaria como possível Presidente do governo?
Uma pergunta inquietante: os extremos tocam-se ou simplesmente a ideia de que a velhice é uma merda?
(1) https://www.elespanol.com/espana/20230321/carlos-alsina-mocion-censura-vox-hoy-impostura/750294966_12.html
O problema não é envelhecer, mas sim envilecer. Que tempos estranhos.
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