O apuramento do valor do défice publico em final de 2022 constituiu uma verdadeira festa, com bombos e fanfarra encomendados por um Fernando Medina feito arauto ímpar das “contas certas” que passaram a ser a grande motivação estratégica do governo socialista de António Costa, exatamente no momento em que os seus profundamente negativos reflexos vão sendo revelados à saciedade pelo País afora, nas ruas, escolas e hospitais. O que Ricardo Araújo Pereira ― qual grande líder da Oposição! ― tão magnificamente parodiou no seu último programa de Domingo à noite.
Mas a dura verdade é que não estamos perante nenhum feito merecedor de tão especialíssima nota. Senão veja-se o bem revelador gráfico abaixo, quer porque não estamos ainda muito longe dos valores absolutos historicamente máximos da nossa dívida pública (mais de 272 mil milhões de euros em final de 2022 contra, por exemplo, menos de 270 mil milhões em final de 2021) quer porque a grande explicação para a diminuição do rácio provém essencialmente de um aumento do PIB relativamente significativo mas que tudo indica ser de natureza excecional (pelas razões que se conhecem associadas à recuperação das fortes quebras pandémicas e ao mais recente efeito da inflação).
Reconheça-se, no entanto, que a central de comunicação criada por Costa cumpriu desta vez, e ao contrário de outras, o papel de que foi incumbida: fazer passar quase convincentemente a mensagem pretendida, por muito que a mesma não corresponda à essência da realidade e por muito que a mesma não devesse ser, em bom rigor, a essência do socialismo democrático por estes dias interpretado à portuguesa. Além de que designar por “contas certas” um défice do quilate em causa não pode deixar de ser levado à conta de uma muito pouco curial propaganda. E assim vamos...
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