quarta-feira, 15 de março de 2023

BOMBOS E FERROS

(cartoons de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Sérgio Conceição prometeu tocar bombo na falta de violinos (Otávio, especialmente, mas também João Mário e Pepe) para enfrentar o Inter de Milão na segunda mão dos Oitavos-de-Final da Champions. E pode bem dizer-se que cumpriu, sobretudo considerando a circunstância do plantel que tem ao dispor. O empate caseiro de ontem soube a pouco, quer tendo em conta algum azar na finalização (os ferros a que se referem os títulos de alguns jornais de hoje) quer observando o modo temeroso com que a equipa italiana disputou a partida (sempre queimando tempo e apostando todas as fichas no ferrolho ― veja-se, aliás, o modo comedido como a imprensa desportiva italiana saudou a passagem do Inter com referências a emoção e um final elétrico). Mas, e é preciso sublinhá-lo, nem o Inter é um dos grandes europeus da atualidade (vê-lo-emos no seu afastamento nos Quartos-de-Final, qualquer que seja o adversário que lhe calhe em sorte, e vimo-lo ontem no jogo de Manchester em que o City fez o Leipzig sentir na pele as diferenças que o dinheiro adquire) nem o FC Porto é hoje uma equipa com condições objetivas capazes de a fazer indiscutivelmente ombrear com muitas das boas ou até razoáveis formações europeias ― excluindo Diogo Costa e muitas vezes Otávio, Uribe e Taremi, falta efetivamente ali a classe que existiu noutros tempos, fruto da crescente financeirização do futebol, de um fair-play financeiro relativamente pouco transparente, de uma duvidosa gestão de ativos e de algumas coisas mais que agora não vêm ao caso. Em qualquer caso, o treinador portista voltou a armar bem a sua squadra e esta voltou a dar tudo o que tinha para seguir adiante ― muito em especial, Fábio Cardoso não deu lugar a saudades de Pepe, Grujić fez o seu melhor jogo ao serviço do clube e chegou a conseguir algumas aberturas ao jeito desequilibrante de Otávio e os restantes estiveram todos empenhados no cumprimento da missão possível que lhes foi atribuída, quiçá com alguma falta de arrojo (que, a existir, poderia também ter-se transformado num pau de dois bicos, ou seja, numa prematura morte do artista). Época acabada com dignidade para o nosso lado, que venha a próxima e com ela algumas afirmações essenciais de renovada energia e estratégia.



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