segunda-feira, 20 de março de 2023

FOSBURY FLOP

Morreu na semana que passou, aos 76 anos, o homem que revolucionou o salto em altura. Ao que o próprio explicou, fruto de mera sorte: “Qualquer um poderia ter inventado esta técnica, é um movimento natural. Como todas as boas ideias, ficamos a pensar por que motivo ninguém se lembrou daquilo mais cedo...”. O certo é que o americano Richard (Dick) Douglas Fosbury ganhou um lugar especial na história do atletismo durante os Jogos Olímpicos do México (1968) quando, ao invés do que estava consagrado (os atletas ganhavam balanço, corriam em frente e saltavam primeiro com uma perna, com a cara para baixo, por cima da fasquia, esperando que o corpo passasse também sem a derrubar), decidiu fazer diferente, correndo em diagonal e “atacando” o salto com a cabeça e os ombros a passarem primeiro, rodando o corpo e passando de costas, com as pernas “perdidas” no ar, mas sem prejudicarem o salto; foi assim que um atleta, considerado relativamente mediano e que nunca mais acederia à glória das grandes vitórias, conquistou a medalha de ouro com um salto de 2,24 metros. Eu que sempre gostei de seguir as competições deste desporto, em especial nas suas disciplinas de corrida e salto, recordo bem o espanto generalizado à época associado ao facto; mas a verdade é que todos conhecemos a realidade de a técnica em causa ter sido imediatamente adotada, sendo hoje absolutamente consensual e de uso unânime nos certames de todo o mundo. Eis um caso fortuito de criatividade que se tornou um exemplo mais de como nem sempre a inovação que marca ser resultante de grandes estudos ou de esforços e investimentos muito relevantes ― porque é frequentemente o acaso, talvez toldado por algum cheirinho inexplicável de inspiração, que muda o sentido das coisas.

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