(O jornal digital El Español, de orientação de direita liberal, embora povoado de menos ressabiados que os do Observador, publica uma interessante notícia sobre a ampliação do aeroporto de Madrid Barajas. É conhecida a nossa propensão para o abismo, ignorando atávica e olimpicamente o que se passa no país vizinho. Embora seja conhecida a instabilidade política em Espanha e estejam esgotadas todas as designações para caracterizar o acordo político que segura por agora o governo de Sánchez, a verdade é que as coisas rolam aqui ao lado e por cá apanhamos bonés e vemos passar os comboios. Por falar nestes últimos, enquanto por cá hesitamos e nos divertimos a inventar cenários de traçados, a Espanha completou a segunda mais importante rede ferroviária de alta velocidade do mundo, só suplantada pela China. A posição de Luís Montenegro quanto à alta velocidade foi tudo menos clara e estou pessimista quanto a esse rasgo. Quer isto significar que nem somos capazes de tirar partido da externalidade que a Espanha nos oferece nesta matéria. Quanto ao aeroporto, a notícia do El Español é também muito clara quanto à capacidade de decisão das autoridades espanholas apesar das condições precárias de estabilidade política. É para todos evidente que em Madrid existe um hub efetivo de transporte aéreo, muito facilitado pela organização em . Não é nem inventado, nem assenta em cenários prospetivos discutíveis. Não obstante essa evidência, os espanhóis parecem preocupados com a possível perda de competitividade face aos hubs da Alemanha, Países Baixos ou França. Aprenderemos com esta clarividência?)
Ignorando que, em matéria de infraestruturas de grande porte como os aeroportos, atrasos de construção significam perdas que vão para além do tempo da inação política, acabámos por gerar com o nosso atraso de cinquenta anos uma posição de subalternidade face ao aeroporto de Barajas, que apesar de já instalado há bastante tempo tem ainda margens relevantes de crescimento, sobretudo em relação aos hubs do Norte da Europa. Quer isto significar que a decisão a realizar sobre o estudo da Comissão Técnica Independente nunca poderá ignorar a presença do , de Madrid (62 milhões de passageiros/ano) e sobretudo a sua dinâmica de crescimento. Por vezes oscilamos entre a hesitação/inação e o planeamento desproporcionado. Temos dificuldade em desenhar situações intermédias e neste caso tratar-se-á de conceber um aeroporto que não ignore o crescimento de Madrid, mas que busque alguma diferenciação.
A notícia do jornal utiliza algumas estimativas da PWC, as quais sustentam que por cada aumento de 10% no número de passageiros, o investimento estrangeiro aumenta 4,7%, as exportações 2,5% e o turismo 4%. Devemos sempre com cautela trabalhar estimativas deste género, cuja causalidade de suporte é muito discutível, mas elas transmitem o clima que suporta os propósitos de crescimento de Barajas e o que é decisivo as margens para esse crescimento existem.
De qualquer modo, enquanto gerimos o nosso tempo da hesitação, o mundo gira e os concorrentes não estão parados.
Veremos o que é o que o governo da AD tem para nos oferecer nesta matéria.
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