Entramos no mês que nos vai trazer a Primavera. A qual sempre se associava a alguma esperança de recomeço e renovação. Ao invés, teremos de convir que, na atualidade, a situação que nos envolve não é de molde a grandes sentimentos de crença e expectativa positiva, para onde quer que nos viremos: à escala global, à escala europeia e à escala nacional abundam os motivos para que se prenuncie uma dominância de nuvens negras no horizonte a partir de um presente encharcado em problemas, inoperâncias e insolubilidades. Sendo que o pior e mais gravoso, para não dizer profundamente inquietante, é marcado por dimensões de enorme irremediabilidade e impotência ― como nos dizia José Pacheco Pereira (JPP) na sua mais recente crónica do “Público” (“A sombra que ninguém vê”): “Se este ano os russos derrotarem a Ucrânia, se Trump ganhar as eleições nos EUA, se a região separatista da Transnístria aderir à Federação Russa, se se aprofundar a divisão dentro da União Europeia entre países como a Hungria e a Eslováquia, com bloqueios a políticas de defesa e segurança na Europa que travem Putin, duas instituições ficarão paralisadas e em crise, a UE e a OTAN, e o risco de uma guerra na Europa será não só considerável como provável. Ou não. E o não será pior porque significa que os seus países com democracias ficarão sem política de defesa e externa com autonomia em relação à Federação Russa.” E mais à frente: “Putin e a Federação Russa iniciaram, com a invasão da Ucrânia, um combate pela hegemonia russa na Europa da ex-URSS, com um objetivo político e territorial explícito que torna qualquer acordo de paz uma derrota para um dos lados e, ao mesmo tempo, tornou a “paz” impossível sem um enorme agravamento da situação de insegurança e sem aumento imediato do perigo de novas guerras. E, a uma dada altura, vai ser impossível evitar que os países da OTAN entrem no conflito com ou sem os EUA. E se tal acontecer, a derrota da Federação Russa será inelutável – uma coisa é combater o exército ucraniano, com as dificuldades conhecidas, outra as forças armadas alemãs, holandesas, dos bálticos, dos países nórdicos, do Reino Unido, de Portugal, Espanha, Itália, Turquia, da França, canadianas, de vários países da antiga Cortina de Ferro, etc. Ao todo 31.” E assim complementando, ainda: “Claro que neste caso a guerra acabará de passar de convencional a nuclear, porque, então, o ‘fator existencial’ de que fala Putin vai mesmo existir. É isto um exagero? Tirem várias camadas do que possam pensar ser exagero e verão como as consequências são igualmente muito graves.” Concluo aconselhando que não se deixem iludir pela ideia de que estamos longe do olho do furacão e protegidos pela nossa pequenez ou insignificância, quando a verdade verdadeira é a de que “quer queiramos quer não, estamos metidos até ao pescoço no que se pode passar na Europa.” Pelo menos, claro.
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