terça-feira, 12 de março de 2024

PREPAREM-SE: TRUMP, ORBÁN E OUTROS QUE TAIS

 


(A imagem que abre este post não passou despercebida a um dos grandes estudiosos do populismo nos nossos dias, Jan-Werner Müller, professor em Princeton e já aqui referido por repetidas vezes neste blogue. Com pose de estadista não o sendo, na sua fortaleza de Mar-a-Lago, Trump simula um ato de Presidência, recebendo um cleptocrata declarado, alojado no coração da União Europeia, e não é o único, Victor Orbán, apelidando-o de um homem forte e de um autêntico “boss”. Certamente que não podemos comparar a Hungria aos EUA, mas o artigo de Müller no The Guardian traz-nos importantes reflexões sobre a recetividade de Trump para receber com pompa e circunstância uma lança apontada ao coração das instituições europeias. O ato em si talvez possa fazer parte da génese de uma perturbadora génese de uma internacional populista que vai avançando pelas democracias ocidentais adentro, mas o artigo do Professor de Princeton vai além disso, sugerindo que apesar da sua pequena dimensão a experiência de Orbán na Hungria talvez tenha seduzido Trump por razões objetivas. Infelizmente e pelas piores razões tenho a intuição que este tema vai ter daqui para a frente uma presença assídua neste blogue. Basta, por exemplo, constatar com alguma vergonha democrata a presença da vitória de Ventura nos jornais internacionais mais relevantes, e com honras de primeira página. Dá que pensar …)

A interpretação de Müller vai no sentido de existirem no modelo orbaniano da autocracia com simulação de eleições características que poderão ter seduzido o séquito de Trump. Entre essas características, destaca-se o domínio férreo do partido que o suporta, que o candidato Trump se tem encarregado de ir assegurando, de modo paulatino mas hoje sustentado, o que é uma captura de grandes proporções atendendo ao legado republicano. O Partido Republicano está hoje praticamente rendido a uma seita de culto da personalidade de Trump, o que constitui a mais significativa captura que poderia imaginar-se. Mas existe também a tentação de calar as elites mais esclarecidas, a começar pelo controlo da investigação académica. Nas hostes de Trump corre a ideia de que as Universidades são fonte incómoda de pensamento não facilmente reciclado pela máquina de vómito da comunicação rasteira. Daí o modelo de controlo da liberdade de criação académica ser uma peça que pode agradar ao nacionalismo conservador em que o Trumpismo tenderá a transformar-se.

Seguramente que a internacional populista e antidemocrática em formação não será um movimento homogéneo e com direção central pelo menos conhecida. O movimento tem, pelo contrário, revelado uma espantosa plasticidade de adaptação a diferentes contextos, tirando partido das especificidades destes últimos.

Basta perceber por exemplo como nos EUA com Trump, França com Le Pen, Alemanha com a AfD, em Espanha com o VOX, em Itália com Meloni, nos Países Baixos com uma formação claramente xenófoba e em Portugal com o Chega existem adaptações diferentes ao que pode motivar um voto de protesto e antissistémico. Estamos, assim, perante algo de muito plástico e por isso muito perigoso.

 

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